Existem coisas que, quando começam a acontecer, vislumbramos logo os incômodos, as desvantagens e a balança pendendo para o lado mais forte. É essa a sensação de alguns usuários, ao vivenciar a implantação, ainda ‘experimental’, do sistema de coletivos urbanos sem cobrador em nossa cidade.
O que começou como teste parece estar evoluindo para ficar. Ônibus sem a presença do cobrador estão circulando no perímetro urbano de Maceió, intercalados com os outros coletivos – e sem muita explicação para os usuários – nem por parte dos empresários nem da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT).
É uma espécie de transição para o uso integral do bilhete eletrônico (por meio do Cartão Bem Legal), por toda a população usuária do transporte público urbano de Maceió.
Pode até ser que no futuro, com o uso exclusivo do cartão, o sistema se torne mais prático e o embarque mais rápido. Mas do jeito que está acontecendo (motorista fazendo seu trabalho e o de cobrador) esse modelo ‘dois em um’ parece ter apenas o propósito de reduzir custos e aumentar os lucros das empresas, com um trabalhador a menos dentro dos ônibus.
E pouco importa o desemprego que isso vai gerar numa classe trabalhadora e os transtornos para os usuários. Por enquanto, os coletivos adaptados para esse sistema têm pouco espaço entre a porta e a catraca e apresentam atrasos na viagem, decorrentes da demora na saída dos pontos de embarque, visto que o motorista passa a exercer múltiplas funções: além de dirigir, é ele que está recebendo a passagem, passando o troco e liberando a catraca.
E basta faltar troco, a confusão tá feita. O passageiro tem que esperar, imprensado no minúsculo espaço entre a catraca e a cabine do motorista.
Some-se a esses transtornos, a potencialização dos riscos de acidente, não só pelas novas funções que dividem a atenção do motorista, mas também pela correria para compensar os atrasos na viagem.
SEGURANÇA
O argumento dos gestores do sistema é instituir como regra o uso do cartão de bilhete eletrônico para reduzir a circulação de dinheiro dentro dos coletivos e com isso reduzir os assaltos. Com o Cartão Bem Legal (nas diversas modalidades: Escolar, Vale-transporte, Senior, Especial, Correios…) o próprio passageiro passa na catraca e o valor da passagem é debitado. Nesse caso, realmente não precisaria de cobrador.
Mas em Maceió a realidade é outra: boa parte dos passageiros ainda paga o transporte público com dinheiro em espécie. Ideal seria que primeiro se estabelecesse a obrigatoriedade do uso do cartão como moeda para todos os passageiros, para depois, gradativamente, ir testando o sistema sem cobrador.
Senão, o que se vai conseguindo é a redução de postos de trabalho entre os rodoviários, com a extinção da figura do cobrador, e o aumento do número de reclamações por parte dos usuários.