O Brasil, que já não vive um bom cenário político, segue rumo à direção de algo muito pior. Estamos com apenas pouco mais de 200 dias do governo Bolsonaro, mas como nação já regredimos algumas décadas e aos poucos voltamos aos tempos de uma ditadura.
Enquanto abertamente se discuta, e com limitação intelectual há quem aceite, nepotismo, negação de fatos científicos, ofensas contra toda uma Região, antiquado desvio de atenção para uma “ameaça vermelha” e discussões rasas na política, além de muitas outras mamatas que na verdade deveriam ter acabado, indícios de ditadura estão logo ali.
Dois fatos recentes assustam os olhares mais atentos. Em guerra contra o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Jair Bolsonaro, acusou o órgão de pesquisa de mentir sobre dados de desmatamento e de estar “agindo a serviço de uma ONG”. Atuando como um clássico “idiota confiante”, ele disse não aceitar os números de desmatamento no país.
Ou se faz de idiota, pois toda sua agenda política tem o intuito de abaixar as calças e se arrear para as bancadas da Bala, Boi e Bíblia. Mais armas para combater violência, mais desmatamento para criar gado e mais ênfase nos evangélicos, em um país outrora laico.
E diante de muitos exemplos passados, como militares que fuzilaram inocentes ou um atuação xenófoba (o presidente literalmente disse ter “uma profunda repulsa por quem não é brasileiro” durante inauguração de aeroporto na Bahia), dois casos particulares nesta semana chamam a atenção: os de agentes policiais intimidando professores e cientistas.
Primeiro, três agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entraram na sede do Sinteam (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas) durante reunião de movimentos sociais que organizam um protesto por ocasião da visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL), nesta quinta-feira (24).
Portando armas longas, os policiais questionaram alguns participantes sobre o protesto e disseram que agiam por ordem do Exército, segundo relatos de duas pessoas presentes. Após meia hora, o trio deixou o local em uma viatura da PRF. Os policiais perguntaram quem eram os líderes do protesto e quais as organizações envolvidas.
“Na história do movimento sindical do Amazonas, em que um presidente visita o estado, é a primeira vez que agentes federais vêm para interromper uma reunião e tomar informações a respeito do que está ocorrendo nela”. Ana Cristina Rodrigues, presidente do Sinteam.
Em outro, durante a 71ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Campo Grande (MS), na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), durante a apresentação do cientista Sidarta Ribeiro, sobre as ações do governo Bolsonaro, pelo menos quatro militares adentraram o auditório e começar a filmar os presentes e suas falas. Uma clara intimidação.
Vergonha! Denuncie! Hoje, durante a apresentação de do cientista Sidarta Ribeiro sobre as ações do governo Bolsonaro, durante a SBPC2019, 4 militares adentraram o auditório e começar a filmar os presentes e suas falas. @ABCiencias @SBPCnet @MiguelNicolelis @LuizDavidovich
— Karlos, o Profeta. (@gauchevivido) 23 de julho de 2019
Com a polícia cerceando encontros legítimos de educadores e cientistas, claramente vivemos um período de censura flagrante.
Ditadura Sutil
Na visão do sociólogo espanhol Manuel Castells, o Brasil está entrando em uma “ditadura sutil” com o governo de Jair Bolsonaro. Durante um seminário organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, ele diz que o primeiro fator que evidencia essa “ditadura sutil”, manejada através das redes sociais, é o desmantelamento da educação, já que “uma população pouco educada, mal informada e malformada é muito mais manipulável”.
“Vocês, neste momento, estão entrando no que eu chamo de uma ditadura da era da informática, uma ditadura sutil na qual o imaginário de grande parte da população brasileira está sendo mudado em direções totalmente contrárias aos direitos humanos, ao respeito, à liberdade”. Manuel Castell, sociólogo espalho.
Para Castells, o governo Bolsonaro promove um processo de desconstrução de tudo o que permitiu que o Brasil pudesse lutar contra a ditadura militar. “A única ferramenta útil é a capacidade instalada nas pessoas de formar seus próprios critérios, suas próprias opiniões, seus próprios valores, e resistir”, detalhou Castells.