Considerado volta da rua após uma breve estada com a turma do Gabi, exatamente no bar do Gabiru. Chegou com a cara de quem comeu e não gostou e foi percebido pela vó Nildinha.
Ela sempre preocupada com o neto, que cria desde bebê, procura a informação de imediato. Exatamente naquela de farejar problemas em seu entorno e tentar resolvê-los de forma serena.
-Você saiu para encontrar sua turma e logo volta de cara amuada. Que houve, brigou? – Perguntou a vó.
Como sempre ele resmungou que estava tudo bem, a não ser por que a turma de velhos tempos já não é mais mesma. Antes alegre, divertida e aventureira. Hoje, disse ele, para Nildinha, a turma “tornou-se uma bolha bozoide que respira alucinada”.
-Meu Deus, sério isso Considerado?
Nildinha pareceu assustada quando fez a pergunta e ele reafirmou: – Tá um caso sério e cada vez que chego no grupo tem uma cara nova falando em armas, Deus, Pátria e Família, como se fossem santos e puros do mundo.
Na sabedoria pertinente aos mais velhos, Nildinha deu o conselho de vó: -Não ligue pra isso, que já já vai passar. E tem mais: A gente conhece todos eles. Puro e santo ali só o meu Zé Fumacê.
-Puta que pariu dona Nildinha, não exagere!
Ela então resolveu mudar o rumo da prosa. -E cadê o Batoré? – E aquele doutorzão do dedo fantástico, onde foi parar esse povo que ninguém, mais vê? -E aquele outro que é grileiro de terra indígena?
Considerado falou que o grileiro e o Batoré ainda participam do grupo, mas o doutor parece ter sido abduzido, apesar de todas as tentativas de “Zoião” e “Tonelada” de resgatá-lo para a mesa do bar. Só que há um detalhe. Segundo os bastidores, se o Dr. Coleguinha voltar para o convívio da turma perde direito a parte da herança da sogra e o cartão “Nelitacard”, que banca a vida nababesca que leva.
-E o Manguito ainda anda cantando a jaguatirica?
-Ih, vó ele tá borocoxô. Ele ouviu conversa de um cliente que tinha implantado um prótese peniana e quis fazer o mesmo, mas não deu certo.
-Meu Deus, sério Considerado?
-Eu ouvi essa história do Delegado e do Promotor Bezerrinho. Eles estavam contando em segredo ao OS.
-Quem diabo é OS, menino?
-É o empreiteiro do Orçamento Secreto (OS), que atua na região da Barra de São Miguel.
-Então esse tá bonitinho de bolso…
-Está e anda falando em levar uma caravana do grupo para Brasília.
-Eitaa… É muito dinheiro.
-Mas essa história é diferente vó.
-Então conte logo.
-O empreiteiro descobriu que “Zoião” e o Pequeno Pônei ganharam dois convites para a festa de reabertura da boate Estalão, em Brasília. Eles eram frequentadores de outros carnavais. Só que agora o OS quer ir também levando um grupo maior.
-Meu Deus, a boate vai reabrir?
-E a senhora conhece?
–Mas tá. Fui muitas vezes com ele mesmo que você chama de Zoião, mas que o Paulo Gracindo quando veio a Maceió o chamou por outro nome…
-Pelo amor de Deus vó… Como foi isso?
–Nos governos do Su e do Gui…
-Que história é essa de Su e Gui.
-Não se meta, era assim que eu chamava eles e me consideravam.
-Tá mas volte aos fatos…
Pois bem, naquele tempo eu e umas amigas íamos a Brasília direto e lá no Estalão a gente se encontrava no camarote onde ficava a Cinira Arruda. Era tudo, como se diz, “free”.
-Minha nossa, eu só sabia dele e do Pequeno Ponei, que depois de ganhar uma borracha apagou tudo da memória. Mas até você minha avó?
-A vida é para ser bem vivida e eu aproveitei. Comida, bebida e amigos bonitos na noite brasiliense… Tudo de bom.
-Nunca vi uma veia tão fogosa como a senhora…
-Olhe o respeito “fi de uma égua”…
-E essa história que o ator Paulo Gracindo chamou Zoião por outro nome, como foi?
–Ele veio receber uma comenda em Maceió e o governador colocou o nosso amigo dos grandes olhos para dar toda assistência, por que ele sempre foi uma pessoa muito elegante e de uma fidalguia impar.
-E daí?
–O governador então perguntou ao Paulo Gracindo se ele estava bem, se foi bem tratado, essas coisas…
-Quem era o governador, então?
–O Gui, primo do ator da Globo. E o artista só fez elogios ao atendimento que recebeu.
-Como assim?
-Ele disse no Palácio: –Olha governador eu estava tenso, mas felizmente relaxei muito após ser bem tratado aqui.
-Ah, fico muito feliz com isso – Disse o governador.
E o ator respondeu de imediato: -Graças a esse “Lindo Olhar”…