19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Depoimento do Coaf em CPI do mensalão foi conduzido por Onyx

Nome forte do Governo Bolsonaro questionou papel do órgão no governo Lula durante CPI

Nesta sexta-feira (7), Onyx Lorenzoni, acuado, se irritou e antes de abandonar entrevista coletiva, com perguntas sobre o cheque para Dona Michele, oriundo do amigo de Bolsonaro, ele perguntou: “onde é que estava o Coaf no mensalão”?

Ninguém melhor do que Onyx para responder isso: em 10 de janeiro de 2006 foi aberta uma sessão da CPI dos Correios, em que foi ouvido o presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) na época, Antônio Gustavo Rodrigues. A comissão parlamentar investigou o esquema do mensalão do governo Lula. E naquele dia, o deputado Onyx era o sub-relator de Normas de Combate à Corrupção e conduziu o depoimento do presidente do Coaf.

Ele foi o primeiro a questioná-lo sobre a atuação do órgão de controle financeiro do governo federal, agradecendo Rodrigues, inclusive, pela presença. Foi quando perguntou sobre normas do Banco Central, eventuais falhas de fiscalização financeira e o alcance do Coaf.

No depoimento durou quase seis horas e teve informações de volume grande de saques em espécie por parte da SMPB, empresa de Marcos Valério, o operador que abasteceu o mensalão pago a políticos da base do governo petista. Informações essenciais para a investigação. E Onyx estava lá.

Nesta sexta-feira, irritado quando a imagem de homem honesto fora manchada mais do que nunca desta vez, a tática de falar do PT foi usada mais uma vez. Falou dos anos de corrupção do governo PT e que Haddad tem vários processos nas costas. Ninguém perguntou sobre o PT, que tem seu maior mandatário já na prisão, ou Haddad, que perdeu a eleição. Mas ele insistiu por falar no PT.

É a tática batida de sempre: quando a coisa fica feia, basta falar do PT. Porém, uma hora isso vai acabar ficando batido. E Bolsonaro parece ter vários amigos.

Amigo do Bolsonaro

O ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) (que se fosse de esquerda seria tratado como Bolsonarinho ou Flavinho) fez 176 saques de dinheiro em espécie de sua conta em 2016. Uma retirada a cada dois dias naquele ano.

O Coaf achou estranha essa movimentação financeira, considera atípica, de R$ 1,2 milhão do policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz. Esse valor inclui tanto saques como transferências, créditos em suas contas, entre outras operações.

No dia 10 de agosto de 2016, por exemplo, Queiroz fez cinco retiradas que, somadas, dão R$ 18.450. Todos os saques foram em valores abaixo de R$ 10 mil, a partir do qual o Coaf alerta automaticamente as autoridades fiscais.

E além dos vários saques de valores baixos, chamou a atenção um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michele Bolsonaro, ou “Dona Michele”. A filha do ex-motorista também era servidora da família, alocada no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.

Bolsonaro

Flávio Bolsonaro afirmou à imprensa na tarde que o ex-motorista “relatou uma história bastante plausível”, e que não haveria nenhuma ilegalidade nas transações. Afirmou ainda que o funcionário está à disposição para prestar esclarecimentos ao Ministério Público.

E isso foi uma grande contradição do que fora dito por seu pai. Jair Bolsonaro afirmou que o motorista recebera um empréstimo de R$ 40 mil e como não tinha tempo para ir no banco, pediu que o pagamento fosse feito na conta de sua esposa.

“Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai achar os R$ 40 mil”

Bastante ativo no Twitter, comentando sobre assuntos polêmicos como quem joga gasolina na fogueira, curiosamente, ele teve que repousar. Sua agenda de sexta-feira fora cancelada e nada comentou sobre a movimentação do assessor e de Dona Michele.

Vice quer respostas

O vice de Jair Bolsonaro, general Hamilton Mourão, vai se colocando como um ponto fora da curva, em meio as expectativas do futuro governo.

“Ele precisa dizer de onde saiu o dinheiro. O Coaf rastreia tudo. Algo tem, aí precisa explicar a transação, tem que dizer”.

Mourão também não engole o deputado federal Onyx Lorezoni, futuro ministro da Casa Civil, que abandonou uma coletiva

Ele tá estressado. Quando responde daquele jeito, parece que tem culpa no cartório. Quando me perguntam, eu respondo claramente, com tranquilidade. Temos que falar”.