28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Artigo

Em tempos de fake news, o 1° de Abril é irrelevante e a Verdade sempre relativa

Com qualquer um podendo interpretar informações da maneira que quiser, como saber se estamos no lado certo de uma discussão?

Está cada vez mais difícil diferenciar a verdade da mentira. Essa deveria ser uma tarefa extremamente simples, mas além de ninguém aceitar um “senhor da razão” ou um grupo que, de forma “ditatória”, diferencie um do outro, o fato de qualquer pessoa poder interpretar informações da maneira que quiser sempre altera o resultado final.

De forma simples e direta: a realidade pode simplesmente se tornar uma questão de convicção. Se um sujeito tem uma ideia implantada em sua cabeça, nada vai fazer com que ele mude sua distorção de realidade.

E em um mundo de fake news, o 1º de Abril mostra o quanto a verdade pode ser relativa. Não importa que um fato seja aparentemente concreto e absoluto, nada vai passar pelo crivo e vontade da pessoa que vai aceitar ou não o que leu, ouviu, recebeu ou pensou.

Isso pode ser desde conceitos simples, como duvidar que a Terra seja redonda ou de abstrações complexas mais do que comprovadas, como a Teoria da Relatividade. Nem mesmo 2 + 2 = 4 consegue ser uma verdade imutável. Apesar de parecer óbvio, basta alguém teorizar (ou teimar) novos conceitos, como mudar o valor de 2 (ou de 4) ou mesmo a soma.

É importante observar que tudo isso é mais forte quando a informação ou notícia pode ser deformada (ou engolida por mais absurda que ela seja) por um grande número de pessoas. Não estamos falando do indivíduo ou pequeno grupo que resolve soltar uma mentira ou distorção, mas sim da grande massa que vai acreditar nela.

Claro, há a verdade menos difícil de ser comprovada, como a pessoa estar garantida de ter escolhido a religião certa (ou de que Deus não exista), mas fatos científicos não deveriam nem ser discutidos. Ao menos não por leigos ou irresponsáveis.

Afinal, como uma pessoa, que claramente acredita em mentiras e distorções de uma realidade paralela, iria duvidar estar no lado errado, quando suas informações distorcidas vêm de alguém que ela respeite? Como negar um “fato absurdo”, uma mentira descarada, uma alteração de realidade quando a ideia implantada na cabeça diz o contrário?

Acho que todos sabemos para onde esse texto vai: a realidade da pandemia no Brasil (e no mundo). O vírus que não provocaria mais do que uma gripezinha, que não exigiria da população uso de máscaras, com isolamento social sendo um dano para a economia e a compra de vacinas uma besteira (para que pressa sem nem saber se há demanda?).

Com cientistas de um lado trazendo evidências sobre os danos à saúde e o colapso hospitalar e do outro a salutar discussão sobre a necessidade de não fechar os olhos para a economia, estando convicto de que como morre gente todo dia, medidas econômicas seriam um remédio muito forte para a situação.

E falando em remédio, apesar da ciência estar convicta de que a única saída seria a vacina, grupos implantaram na cabeça de vários a possibilidade de tudo isso ser um boato para desestabilizar governos e que para se livrar disso, basta tomar remédio de verme ou para doenças autoimunes. Houve até a proposta para aplicação de ozônio no ânus.

Com uma pessoa podendo interpretar informações da maneira que quiser, como realmente saber se você está no lado certo ou no errado? Em um mundo de fake news, é realmente possível acreditar em quem assusta a população e provocaria absurdos como falir comerciantes e fabricar números de mortos?

Pois bem, mesmo a verdade sendo mutável, paciência tem limite!

A pandemia é a situação mais grave da historia recente do Brasil, milhares estão morrendo todos os dias (quase 4 mil apenas ontem), está faltando vaga, medicamento e até oxigênio em hospital e já passou da hora de ficar teimando com burrice irresponsável.

Cloroquina e ivermectina não funcionam para covid-19 (uso indiscriminado até piora) e o comércio está fechado porque um imbecil não quis comprar vacina no momento certo. Se você está se sentindo prejudicado economicamente, vá reclamar com quem até hoje nega o problema e não quis imunizar a população – o plano dele, aliás, era contaminar todo mundo.

Pelo amor de Deus e da ciência: se você ainda está nesse barco, está na hora de acordar para realidade. Esse nível de burrice e teimosia durante uma pandemia mata.