29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Exército, que já chamou Bolsonaro de corno e terrorista, hoje se curva ao seu “dono”

Em live, presidente falou das Forças Armadas (que refugaram no caso Pazuello) e mencionou punição após artigo que escreveu na Veja, mas deixou de fora o atentado que planejou

Foto: Sérgio Lima/PODER 360

Em mais uma live semanal de quinta (3), o presidente Jair Bolsonaro não mencionou de forma direta o caso Pazuello, mas afirmou que o Exército possui um “código disciplinar bastante rígido”.

A fala, ao vivo nas redes sociais, aconteceu horas depois do Exército refugar e não punir de nenhuma forma o general (ainda da ativa) Eduardo Pazuello, que contrariou o regimento e participou de um ato político ao lado do presidente.

“A punição, pessoal, existe, nas Forças Armadas. Ninguém interfere. A decisão ali é do chefe imediato dele ou do comandante da unidade, e a disciplina só existe porque realmente o nosso código disciplinar é bastante rígido”. Jair Bolsonaro, presidente.

O Regulamento Disciplinar do Exército e o Estatuto das Forças Armadas proíbem a participação de militares da ativa em manifestações políticas. Mas, de alguma forma, ficou “caracterizada a prática de transgressão disciplinar” por Pazuello e o processo foi arquivado.

Foto: Orlando Brito/VEJA

Bolsonaro, portanto, ganhou uma luta de braço contra o Exército, que chama de seu, e garantiu que seu protegido não seria punido. Essa decisão enfraquece as Forças Armadas, pois ao Exército abaixar as calças e isentar o general Eduardo Pazuello também expõe negativamente a Marinha e a Aeronáutica.

Ou seja: Bolsonaro se mantem livre e vindicado de chamar de “seu Exército” e “suas Forças Armadas” quando bem entender. Isso porque, há mais de 30 anos, o próprio exército considerava o capitão corno e o julgava por terrorismo.

Relatório secreto

Mentiroso, corno, muambeiro e contrabandista. Além de “eleitor de Collor”. Estas foram as impressões de um relatório secreto, do Ministério do Exército, datado de 27 de julho de 1990 (link original aqui), sobre o hoje presidente Jair Bolsonaro.

O documento inicia com uma linha do tempo, relatando a punição que o capitão Bolsonaro recebera em 1986, depois de ter assinado um artigo na revista Veja em que ele pedia aumento de salário para sua categoria.

O assunto torna-se mais grave, quando é mencionada outra matéria, também da Revista Veja, dessa vez assinada pela repórter Cassia Maria, que ouviu dele uma operação chamada “Beco Sem Saída”.

Nesta, ele havia planejado explodir bombas no quartel. Além de ter mentido sobre a conversa com a jornalista, ele também foi acusado de ameaçar Cassia antes do depoimento.

A matéria completa, sobre a operação ‘Beco sem Saída’, pode ser conferida clicando aqui

Acusado de orquestrar ataque terrorista e vazar informações internas à revista Veja, Bolsonaro foi absolvido em segunda instância, mas convidado a se “aposentar” das Forças Armadas.

Isso apesar de relatório da Polícia Federal atestar que, de fato, a letra do “croqui” que embasou o plano de ataque era do capitão. E como pode ser visto, o relatório é bem detalhado:

Segundo o relatório, Bolsonaro mentiu ao dizer que não falou com a repórter
O tom parte para o ataque e fala das viagens dele para o Paraguai, trazendo muamba, e de problemas no casamento, dizendo que “não passa de um mercenário, corno e contrabandista querendo aparecer”
O relatório não deixa de pegar pesado, dizendo que ele precisa “averiguar os passeios de sua então esposa, Rogéria, atingindo até mesmo a honra dela e da esposa do “Major Moraes”

Caso queira conferir o arquivo, ele esta no SIAN (Sistema de Informação do Arquivo Nacional)

E em 19 de abril deste ano, um dia para esquecer, completou-se 33 anos de Bolsonaro considerado culpado pelo Conselho de Justificação Militar (CJM), em 1988, de planejar o atentado terrorista “Beco Sem Saída”.

Os alvos e explosões de bombas de baixa potência, do então capitão Messias Bolsonaro eram quartéis do Exército no Rio de Janeiro, na Vila Militar e na Academia de Agulhas Negras, e até na adutora de água Guandu, que abastece a cidade do Rio.