12 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Economia

FGV: Acelerar o fim do isolamento provocaria um desastre para a economia

Em cenário mais pessimista, haveria uma retração do PIB de 7% e o Brasil teria 12,6 milhões de novos desempregados

Segundo um estudo de pesquisadores do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a crise do coronavírus deixará até 12,6 milhões desempregados e provocará contração recorde de quase 15% na renda dos trabalhadores.

Isso se o governo não ampliar os instrumentos de transferência de renda à população, ajudar empresas para que mantenham empregos e que insista na ideia de antecipar o fim do isolamento/distanciamento social contra o novo coronavírus.

Segundo os pesquisadores do Ibre, não há dados de outros países que mostrem uma recuperação rápida da economia após o relaxamento do isolamento. E mesmo aqueles que não adotaram a quarentena estão registrando queda forte da atividade.

Dados de países atingidos mais cedo que o Brasil pela pandemia mostram que o setor de serviços tem sofrido mais que a indústria. A China, epicentro da doença e primeiro país a relaxar a quarentena, não se recuperou no mesmo ritmo.

E mesmo com as medidas já anunciadas para garantir renda extra a trabalhadores formais e informais, que somam R$ 170 bilhões, a massa salarial deve cair 5,2%, retração recorde da série iniciada em 2003. Sem essas medidas, a queda seria de 10,3%.

No cenário considerado mais factível pelos pesquisadores, há retração de 3,4% no PIB (Produto Interno Bruto) e de 6,7% nas horas trabalhadas e na população ocupada, com a perda de cerca de 6 milhões de empregos.

O desemprego terminaria o ano no patamar recorde de 17,8%. Como comparativo, no trimestre encerrado em fevereiro, antes do início da crise, a taxa estava em 11,6%.

O cenário mais pessimista mantém a expectativa para a maior parte dos setores, mas sinaliza uma piora no setor de serviços: a massa salarial cairia 13,8%, mesmo considerando as medidas já anunciadas pelo governo, com redução de 13,5% na população ocupada e nas horas trabalhadas de todos os setores.

Este número é compatível com uma retração do PIB de 7%. A taxa de desemprego iria para 23,8%. Ou seja: seriam 12,6 milhões de novos desempregados no país, mais que o dobro do registrado antes da pandemia.

Nos dois cenários, o encolhimento da população ocupada é recorde para a série elaborada com dados a partir de 1982. Os piores resultados anteriores foram as retrações de cerca de 2% em 1990 e 2016.

De acordo com a pesquisadora Silvia Matos, a queda do PIB de 3,4% é praticamente a mesma registrada em 2015 e 2016, mas a destruição de empregos, no Brasil e em outros países, não será comparável a nenhuma outra recessão dos últimos 40 anos.