25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Ministro do MEC mente sobre como roubou doce das faculdades

Weintraub usou chocolates para explicar o “contingenciamento” de 35% dos recursos mas errou a conta feio; E o presidente comeu o chocolate

Em mais uma live no Facebook, desta vez ao lado do ministro da Educação, Abraham Weintraub, o presidente Jair Bolsonaro tratou brasileiros como eleitores durante campanha e protagonizou uma analogia vergonhosa e mentirosa. Duvidando da inteligência de quem os acompanhava (o que é fácil, diante dos cortes imensos na educação), distorceram a realidade mais uma vez.

Weintraub usou chocolates para explicar o “contingenciamento” de 35% dos recursos destinados a universidades federais. Mas ele errou a conta feio. Usando 100 barras de chocolate, ele tentou mostrar como iria “segurar” até setembro três barras e meia. Ou seja, apenas 3,5% do total.

“A gente tá pedindo, simplesmente, que três chocolatinhos e meio, desses cem chocolates… A gente não tá falando pra pessoa que a gente vai cortar, não tá cortado, deixa pra comer depois de setembro, é só isso que a gente tá pedindo, isso é segurar um pouco”. Abraham Weintraub, ministro do MEC.

Curioso é que durante a explicação o presidente comeu o chocolate. Não dá pra ser mais surreal: o ministro da Educação mentiu sobre os cortes que afetam as faculdades, disse que isso seria apenas até setembro e que tudo voltaria como antes, enquanto o presidente roubava o doce de criança e comia, sorrindo, na frente dela.

Bolsonaro comeu chocolate que ilustrava dinheiro para Educação e Weintraub mentiu ao dizer que 35% são 3,5%

Após a participação desastrosa, o MEC enviou nota tentando corrigir as besteiras:

  • A pasta falou em congelamento de 30% da verba das universidades. Esse valor se refere ao orçamento que pode ser congelado ou cortado – verbas chamadas “não discricionárias”, usadas, por exemplo, para gastos com água e luz. Essas despesas são 13,8% do orçamento total das universidades – e é 30% desse valor que está bloqueado.
  • Gastos com pagamento de salários de funcionários são “obrigatórios” e não há margem de bloqueio sobre eles. Não são alterados.
  • O valor bloqueado, portanto, equivale a 3,4% do orçamento total das universidades neste ano – que totaliza R$ 49,6 bilhões.

Entretanto, só na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o Governo Federal efetuou o bloqueio orçamentário de R$ 39,5 milhões dos recursos de custeio e capital.

Esse valor representa 36,6% do orçamento de custeio e capital da UFAL que são os recursos utilizados para pagamento das despesas contratuais, água, energia elétrica, bolsas, aquisições de livros carteiras escolares, equipamentos de laboratório, etc. Foram bloqueados 30% do orçamento de custeio e 80,3% do orçamento de capital.

Foram efetivados bloqueios nas ações orçamentárias de funcionamento da Universidade, capacitação de servidores, recursos consignados ao Hospital veterinário da UFAL e funcionamento da Escola Técnica de Artes. Foram também bloqueadas as emendas parlamentares consignadas à UFAL pela bancada alagoana. Apenas as ações de assistência estudantil não foram afetadas pelo corte.

Cortes

Não é o primeiro erro homérico do ministro com números e contas. O economista que teve o histórico de sua faculdade vazado, revelando notas zero em notas como Introdução a Economia, Introdução à Sociologia, e Contabilidade, já confundiu R$ 500 mil com meio bilhão de reais ao informar o custo da avaliação do nível de alfabetização.

O Economista que não sabe fazer contas nem mesmo usando doce, está à frente dos cortes de R$ 7,4 bilhões nas universidades federais, que já começam a ser sentidos nos institutos e cursos de mestrado e doutorado. Cortes que Onyx justificou com dados falsos.

O ministro da Educação, Weintraub, e o presidente Bolsonaro.

Faculdades como a UFAL já fazem as contas para avaliar como seguirem abertas, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai congelar neste semestre bolsas.

O investimento em educação no Brasil caiu 56% nos últimos quatro anos. Entre 2014 e 2018, diminuiu de R$ 11,3 bilhões para R$ 4,9 bilhões. A projeção da Lei Orçamentária deste ano é que o valor seja ainda menor e fique em R$ 4,2 bilhões.

Weintraub, disse que a política de cortar a verba dedicada às universidades federais está em linha com o plano de governo que elegeu Jair Bolsonaro e questionou os contribuintes se eles preferem que o dinheiro dos impostos seja gasto em alunos de graduação ou de creches.

Em um vídeo de pouco mais de um minuto, o ministro compara o custo de um aluno de graduação (R$ 30 mil anuais, segundo ele) com o de uma vaga em creche (R$ 3 mil, segundo ele).

Weintraub não explica no vídeo de onde vêm os dados que citou, nem a que tipo de instituições se referem, mas foi bem claro quando atacou o que via como balbúrdia em determinadas universidades federais.

Vale lembrar que ali ele também mentiu e o dinheiro não será destinado para ensino básico coisa nenhuma. Comeram mesmo o doce das crianças.