27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Vaza Jato: Dallagnol vazava informações de investigações para imprensa

Coordenador da Lava Jato participou de grupos em que esse tipo de vazamento era debatido, planejado e realizado

Em mais uma fase da Vaza Jato, com os diálogos obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados hoje, foi apontado que o coordenador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, mentiu quando negava que agentes públicos passavam informações de investigações à imprensa.

Na verdade, em chats no Telegram, procuradores admitem os “vazamentos”, e Dallagnol aparece antecipando um passo de uma das operações a jornais. De acordo com as mensagens exibidas pelo Intercept, Dallagnol participou de grupos em que esse tipo de vazamento era debatido, planejado e realizado.

Vale lembrar que em 2017, à BBC, Dallagnol respondeu sobre vazamentos na força-tarefa que “nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.

“Para não dizer que não vazaram, vazaram em apenas um caso e com dedicação e alguns lances de sorte foi possível identificar a origem do vazamento. Nós não temos um instrumento eficiente para identificar a fonte de um vazamento com as restrições devidas relativas à proteção da imprensa.” Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato., em entrevista na BBC.

Vazamentos

Em 21 de junho de 2015, o procurador da Lava Jato Orlando Martello perguntou ao colega Carlos Fernando Santos Lima em grupo que reúne membros da força-tarefa qual a estratégia de revelar os próximos passos na Eletrobrás. Santos Lima disse não saber do que Martello estava falando, mas afirmou:

“Meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração.” Carlos Fernando Santos Lima, procurador na Lava Jato.

Esta conversa teria ocorrido dois dias após a 14ª fase da Lava Jato, que apontou para as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez. Os procuradores debatiam estratégias para conseguir um acordo de delação com Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propinas da Odebrecht.

Neste mesmo dia, Dallagnol e Martello disseram no grupo que vazaram informação de que os EUA ajudariam na investigação de Freiburghaus. Segundo os diálogos, eles informaram a repórteres do jornal O Estado de S. Paulo, antecipando a movimentação, para pressionar o investigado. Dallagnol teria sido o responsável.

“O operador da Odebrecht era o Bernardo, que está na Suíça. Os EUA atuarão a nosso pedido, porque as transações passaram pelos EUA. Já até fizemos um pedido de cooperação pros EUA relacionado aos depósitos recebidos por PRC. Isso é novidade. Vc tem interesse de publicar isso hoje ou amanhã, mantendo meu nome em off? Pode falar fonte no MPF. Na coletiva, o Igor disse que há difusão vermelha para prendê-lo, e há mesmo. Pode ser preso em qualquer lugar do mundo. Agora com os EUA em ação, o que é novidade, vamos ver se conseguimos fazer como caso FIFA com o Bernardo, o que nos inspirou”. Deltan Dallagnol.

O repórter, que não teve a identidade revelada, respondeu com um empolgado. “Putz sensacional! !!!! Publico hj!!!!!!!”. A informação virou manchete do jornal, sob o título “Americanos vão ajudar a investigar a Odebrecht”. Antes, Dallagnol falou, no grupo “Amanhã cooperação com EUA pro Bernardo é manchete do Estadão. Confirmado”

Além deste caso, em 2016 falou-se abertamente em “vazamento seletivo”, para influenciar um suposto pedido de liberdade para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.No grupo Filhos do Januario 1, em 12 de dezembro de 2016, aconteceu o seguinte diálogo:

Carlos Fernando dos Santos Lima – 18:45:31 – Recebi do russo : Off recebi uma notícia que não sei se é verdadeira que haveria uma articulação no STF para soltura do Cunha amanhã

Roberson Pozzobon – 18:51:49 – Essa info está circulando aqui a PGR tb

Paulo Roberto Galvão – 18:57:24 – O Stf seria depredado. Não acredito

Athayde Ribeiro Costa – 18:57:40 -toffi, lewa e gm. nao duvido

Santos Lima – 18:58:37 – É preciso ver quem vai fazer a sessão.Jerusa Viecilli – 18:58:39 – Pqp

Santos Lima -19:00:58 – Alguma chance de soltarmos a notícia da GOL?

Costa – 19:01:35 – vazamento seletivo…

Outro lado

A assessoria de imprensa da Lava Jato afirmou que a força-tarefa “jamais vazou informações sigilosas para a imprensa, ao contrário do que sugere o questionamento recebido” e argumenta que apenas se fosse ilegal ou violasse ordem judicial uma informação passada à imprensa poderia ser caracterizada como “vazamento” – e que o caso do jornal O Estado de S. Paulo não seria um vazamento.