Por Wagner Melo, jornalista
Já está virando piada sem graça essa história de que farda e coturno garantem retidão moral, disciplina e ética. E que, no período mais nebuloso da História do Brasil, não havia desonestidade e nem se fazia farra com o dinheiro público.
Os fetichistas da censura e do autoritarismo acham que debaixo de uniformes há seres circulados por uma aura de perfeição. Mas, basta futucar a lama que o mau cheiro sobe.
O exemplo vem de um general mão de ferro, considerado um dos mais repressores do período militar: Emílio Garrastazu Médici (de 1969 a 1974). Aos 79 anos, o dito cujo adotou a neta Cláudia Candal.
A adoção é uma atitude de amor, mas, neste caso, teve uma finalidade, digamos, não tanto nobre: poucos dias depois de oficializar o ato, em fevereiro de 1984, o general declarou a filha adotiva como beneficiária na Seção de Pensionistas do Exército. Em 1985, Médici faleceu e a “filha-neta” passou a gozar do seu direito.
Que lindo! As pensões das filhas de militares nos custam R$ 6 bilhões por ano. Segundo levantamento da revista Fórum, são 87 mil filhas pensionistas. Sabem o valor médio das pensões? R$ 5,3 mil, mas 11 mil delas contam com renda entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.
E mais: essas favorecidas estão livres da ameaçadora reforma da Previdência do Temer. Um privilégio e tanto! Bancado por nós…
Em 2005, um suspiro de moralidade: a pensão da neta do ex-presidente militar foi considerada irregular pela administração pública e suspensa. Mas ela conseguiu recuperar o direito na Justiça, após batalha que passou pela Justiça Federal no Rio de Janeiro, pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A canetada final, a favor de Candal, veio do Tribunal de Constas da União (TCU), em 2012. A mulher que se tornou pensionista aos 21 anos, com pai vivo e de alta remuneração pode, enfim, gozar de seu privilégio.
Enquanto isso, adivinha quem vai pagar a conta pelo déficit das contas públicas?