23 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

“Provas” que Bolsonaro apresentou em live contra urnas eletrônicas são pura mentira

A última vez que houve prova de fraudes, foi em 1994, inclusive com cédulas para o então candidato a deputado federal, Jair Bolsonaro

Após criar grande expectativa, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez falhou ao apresentar “provas” de fraude nas eleições com a urna eletrônica.

Em live na noite desta quinta (29), o presidente inventou de reciclar boatos (todos já desmentidos) e inventar suspeitas sem fundamento sobre o atual sistema de voto.

Vale lembrar: desde que foi adotado em 1996, independente de quem estivesse no comando do governo, nunca houve evidências de fraudes nas eleições. Pelo contrário: a última vez foi em 1994, inclusive com cédulas para o então candidato a deputado federal, Jair Bolsonaro.

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Mentiras

Com medo de perder nas próximas eleições, Bolsonaro reforçou o boato de que as urnas não são seguras. Ele, inclusive, disse que deveria ter vencido no primeiro turno e teria provas disso. Gênio, resolveu dizer que a própria eleição que ele venceu foi ilícita.

Tudo para não se debater com o fato de que, se as eleições fossem hoje, ele perderia provavelmente já no primeiro turno para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E se fosse ao 2ª turno com qualquer outro ser pensante, também iria perder.

Daí, suas ideias antidemocráticas de proibir votação se o sistema não mudasse. E hoje, para “provar” estar certo, o presidente:

  • reproduziu um vídeo já checado como falso em novembro de 2020 pelo Projeto Comprova;
  • fez menção a uma suposta fraude no Maranhão em 2008 que foi descartada pela Polícia Federal após investigação;
  • lançou uma série de insinuações sobre o resultado do primeiro turno das eleições de 2018;
  • não demonstrou nenhuma irregularidade, além de ressuscitar acusações já desmentidas sobre o pleito que venceu há três anos.

Confira algumas de suas frases e o completo desmentido:

“Pessoas foram votar e candidatos não apareciam na tela. Iam votar no 17 e aparecia nulo ou automaticamente o 13. Quem ia votar no 13 não aparecia 17 ou nulo”. Jair Bolsonaro.

Mentira. Isso aconteceu por que os fãs do presidente esqueceram que deveriam votar em outros cargos naquela eleição e, obtusos, fora logo apertando 17 para governador – opção inexistente em muitos estados. E quando aparecia o nome de Haddad, era tudo montagem.

“Vimos há pouco o PSDB mudar de posição, quando assistimos em 2014 o deputado Carlos Sampaio realizar uma profunda auditoria nas eleições de 2014. E ele fala depois de várias semanas o resultado dessa auditoria que reuniu peritos de fora do Brasil, ele diz que o sistema eleitoral nosso é inauditável. Não dá para comprovar ou não se houve voto nas eleições”. Jair Bolsonaro.

Em 2015, um ano após a reeleição de Dilma, o PSDB pediu ao TSE uma auditoria. E a legenda publicou um relatório afirmando não ter detectado fraude. E o próprio Aécio Neves afirmou que não houve fraude em 2014. Seu vice, Aloysio Nunes Ferreira, disse que perderam porque “faltou voto”.

“É justo quem tirou o Lula da cadeia, que o tornou elegível, ser o mesmo que vai contar o voto numa sala secreta no TSE? Cadê a contagem pública dos votos”? Jair Bolsonaro.

É até frustrante ter que desmentir um presidente da República falando tanta asneira: a contagem dos votos é feita de forma eletrônica, primeiro em cada urna e depois com os resultados enviados a um sistema por meio de uma rede privada de satélite. Os votos são somados neste sistema eletrônico. Não há sala secreta.

E a cereja do bolo: os três ministros do STF que fazem parte do TSE atualmente (Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes) votaram a favor da prisão de Lula. Ou seja: mais uma tremenda mentira.

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“Essas urnas surgiram no final dos anos 90. Eu fui favorável a elas, dei declarações favoráveis a elas, mas a tecnologia ainda é a mesma, a segurança… quase nada mudou de lá para cá”. Jair Bolsonaro.

Mentira. A tecnologia é aprimorada a cada dois anos e que as modificações são passíveis de conferência. Próximo.

“Votar em um candidato e contar voto para outro aconteceu largamente por ocasião das eleições de 2018. Temos vários vídeos demonstrando isso aí. Exatamente o que está aí”. Jair Bolsonaro.

Alguém consegue ver uma live do presidente sem se sentir completamente frustrado? Não há provas de que pessoas tenham tentado votar em um candidato e o voto tenha sido computado para outro e é praticamente impossível fazer esse tipo de fraude em larga escala.

O curioso é que após mais de 40 minutos de discurso, sem apresentar provas concretas de fraude eleitoral e com ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente da República, Jair Bolsonaro finalmente afirmou que “não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”.

Piada.