20 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro tem histórico de aliança e amizade (além de muitas fotos) com Roberto Jefferson; Confira

Ex-presidente do PTB namorou filiação de Jair, colocou o padre Kelmon para fazer dobradinha e foi defendido pelo presidente após inúmeras ações e prisões

Neste domingo, o aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Roberto Jefferson, se entregou e foi preso após reagir com tiros a uma ação da Polícia Federal.

Fanático, o ex-deputado federal pode ser peça decisiva nas eleições presidenciais desse ano, mesmo tendo sua candidatura no PTB barrada e nem estando nas urnas (em seu lugar, entrou o Padre Kelmon, que ajudou nas negociações).

Isso porque seu, até então, defensor Jair Bolsonaro está a todos os custos dizendo que não tem nada a ver com Bob Jeff. Em sabatina na Record, não só justamente chamou o amigo de bandido, como inventou que ambos “nem tem fotos juntos“.

Para o presidente, então, sobrou as mentiras. Como dizer que o pai da criança é Lula, sendo que Roberto Jefferson foi justamente o delator do mensalão – um condenado abraçado por anos pelos bolsonaristas. Infelizmente, para ele, o que não faltam são fatos. Senão vejamos:

Contra Maia, Live de Bob Jeff

Em abril de 2020, ao alto de seus 65 anos, Jair Bolsonaro postou em seu canal oficial uma versão editada de entrevista de Rodrigo Maia (então presidente do Congresso) com um funk ao final, em que uma criança cantando ‘quem tem boca fala o que quer, acredita quem quiser’.

No mesmo dia o presidente, em seu canal oficial no Facebook, fez questão de ser filmado assistindo uma live em que o ex-deputado Roberto Jefferson, delator do Mensalão, falou a blogueiros de direita que Maia tenta dar ‘golpe’.

Leia mais: Presidente fez questão de ser filmado assistindo uma live do ex-deputado Roberto Jefferson, delator do Mensalão

Jefferson, tanto hoje quanto na época, respondia a vários processos de corrupção, assim como a própria filha, Cristiane Brasil, que ele indicou para o Ministério do Trabalho no governo Michel Temer, e que foi demitida após ela e o pai montarem uma lucrativa rede de fraudes com registros sindicais dentro do ministério.

Inquérito de fake news

Para se desligar do Bob Jeff, o presidente afirma na cara dura que o criminoso é aliado de Lula. Difícil, pois este estava na patota de bolsonaristas que caiu no inquérito das Fake News, em mais de 2020, ao lado de outros nomes ilustres, como o dono da Havan, Luciano Hang, e os ativistas Allan dos Santos e Sara Winter (hoje também uma ex-aliada) e outros oito deputados bolsonaristas.

Com o inquérito seguindo adiante, Bob Jeff foi preso em agosto do ano seguinte, junto com o deputado Daniel Silveira e o blogueiro Oswaldo Eustáquio. Elas foram determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O que irritou o presidente, que defendeu todos os três:

Leia mais: Bolsonaro diz que não pode aceitar passivamente a prisão de aliados

“Foi preso há pouco tempo um deputado federal e continua preso até hoje, em prisão domiciliar. A mesma coisa um jornalista, ele é jornalista, é blogueiro, também continua em prisão domiciliar até hoje. Temos agora um presidente de partido. A gente não pode aceitar passivamente isso, dizendo: ‘Ah, não é comigo’. Vai bater na tua porta”. Jair Bolsonaro.

O “presidente de partido” que Bolsonaro se referia era exatamente Roberto Jefferson, que não só teve a polícia batendo na porta, como os recebeu com tiros e uma granada.

Bolsonaro caracterizou, na época, “não ser justo” um magistrado da Corte determinar prisões por ser criticado e que os ministros deveriam “tolerar” comentários. Ontem, no entanto, preocupado com o voto feminino, foi completamente intolerante aos comentários de Jeffrson, que chamou a ministra Carmen Lucia de “prostituta arrombada”.

Leão conservador com “kit anti-satanás”

Um dos motivos para a prisão do ex-presidente do PTB foi uma postagem que, o que teve de criminoso, teve de babaca: Bob Jeff postou um vídeo usando uma balaclava e “armas”, que precisou de dois dias para ser deletado pelo Twitter.

O ex-deputado presidente nacional do PTB e condenado por corrupção dizia que estava praticando o “kit anti-satanás”, convidando a população a se armar para combater o “Satanás que quer fechar igreja” – uma medida mais do que necessária no alto da pandemia.

Leia mais: Twitter deleta postagem com ameaças de Roberto Jefferson em seu “kit anti-satanás”

“Tem um Satanás armado? Esse imediatamente um irmão patriota bota fora de combate”. Roberto Jefferson, armado para “defender” a igreja.

Fazia parte de seu “kit” um cabo de enxada, um taco de beisebol e um chicote. Segundo o Twitter, a publicação violou as regras de conduta. A rede social diz vetar que usuários promovam “ameaça de violência” e a “glorificação da violência”.

O condenado, que se descreve como um “Leão Conservador” com o rugido da liberdade que adora Harley Davidson, promovia violência contra os agentes que atuam na fiscalização de medidas sanitárias na pandemia.

Sua descrição anterior era a de um “alferes de Deus e atalaia da família cristã. Ele também já apareceu portanto um fuzil e sugerindo que o presidente fechasse o STF na base da bala e revogasse a concessão da Globo.

No dia seguinte (3), veio a permissão para realização de missas e cultos presenciais, tomada de forma liminar pelo ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal.

Antes da prisão, sugestões contra o STF e a Globo

A prisão de Roberto Jefferson, ao menos a primeira delas, até demorou a acontecer. Mais de um ano antes (mas depois da live com o petebista que Bolsonaro fez questão de compartilhar), Bob Jeff fazia sugestões bem íntimas ao presidente. Não só íntimas, como criminosas e insurgentes.

Quando o apoio era mútuo na épica, o corrupto contumaz, Roberto Jefferson, ainda presidente do PTB, atacava o Supremo Tribunal Federal (STF) e, mais precisamente, o ministro decano Celso de Mello (que saiu para o lugar de André Mendonça, o terrivelmente evangélico).

Na época, Jefferson negociava uma vaga no Ministério do Trabalho para o seu partido (mais precisamente, para sua filha), defendeu que Bolsonaro demitisse imediatamente os 11 ministros do STF, “como uma ação cirúrgica e uma reação de força”. Com a força do fuzil.

Leia mais: Roberto Jefferson defende que Bolsonaro use o fuzil contra o STF

“Celso de Mello quer mostrar que a toga é mais forte do que o fuzil. É um desafio que ele está fazendo aos militares, tentando humilhá-los”, disse Bob Jeff, em entrevista à uma Rádio Gaúcha. Ele defendeu ainda que Bolsonaro poderia interferir como bem entendesse na PF, pois esta seria um “direito dele”.

O ex-deputado também declarou que “é preciso uma reação agora”, “com Bolsonaro à frente”, “uma reação de força”, porque “só se detém um golpe pela força”.

“Os ministros do STF estudaram Mao Tsé-Tung. Então, todos eles sabem que o poder não inicia na toga. O poder inicia no cano do fuzil. Só que eles estão desafiando o que eles aprenderam na escola de progressista”. Roberto Jefferson, bolsonarista.

O ex-deputado afirmou, ainda, que Alexandre de Moraes “era advogado do PCC”. Em outra oportunidade, defendeu que para “atender o povo e tomar as rédeas, Bolsonar precisa de duas atitudes inadiáveis: demitir e substituir os 11 ministros do STF, herança maldita, e cassar  todas as concessões de rádio e TV das empresas concessionárias Globo”.

Leia mais: Roberto Jefferson sugere a Bolsonaro troca dos ministros do STF e fim de concessão da Globo

“Bolsonaro venceu a eleição com a promessa de defender a família cristã, dos ataques feitos pelos sodomitas, autores e diretores das novelas inspiradas em Sodoma e Gomorra, pela Rede Globo de TV. Foi impedido, não conseguiu. Bolsonaro é alvo de campanha infamante pela Globo. Estou me preparando para combater o bom combate. Contra o comunismo, contra a ditadura, contra a tirania, contra os traidores, contra os vendilhões da Pátria. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. Roberto Jefferson.

Me desculpem, mas só sendo um desinformado ou idiota para achar que esse se trata de um aliado de Lula…

E isso acaba sendo um problema para o futuro: o Brasil está com um exército de insanos e/ou aproveitadores que são um problema maior que Bolsonaro.

Mesmo que o presidente não se reeleja, uma parcela enorme da população adotou as práticas extremistas da ideologia bolsonarista, que apela e acredita em mentira, gente que defende golpe militar e é capaz de atirar contra rivais políticos e em policiais.

A diferença é que agora a gente consegue saber facilmente quem está do lado do bem.