27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Fátima Almeida

Chacinas perpetuam o extermínio de adolescentes e jovens em Alagoas: quem é que vai pagar por isso?

Mais um listão de mortos necropsiados foi divulgado nesta quarta-feira

(*) Por Graça Carvalho

A Perícia Oficial do Estado divulgou nesta terça-feira um “listão de mortos” cujos corpos foram submetidos à necropsia nos Institutos Médicos Legais de Coruripe e de Rio Largo. Dos oito identificados, sete foram vitimados em duas chacinas ocorridas no último final de semana naqueles municípios. Dentre eles, cinco têm menos de 18 anos.

No IML de Coruripe, os corpos de Marcos Antonio Gomes de Souza (16), Edvaldo Daniel Barbosa Luiz (17), Ricleson Severo dos Santos (18) e Marcos André Ferreira da Silva (20). No IML de Rio Largo, Walisson da Silva Palmeira (14), Douglas Mateus Pereira Costa (14) e André Ricardo de Melo Lira (16). Além deles, Francisco Pereira (48), vítima de afogamento, encontrado às margens do São Francisco, em Porto Real do Colégio.

Em maio do ano passado, o Núcleo de Estatísticas e Análise Criminal (NEAC), da Secretária de Segurança Pública (SSP/AL), anunciou que, de janeiro até o dia 30 de abril haviam ocorrido 765 mortes. E, em seguida, a informação que já revelava a continuidade do chamado extermínio de adolescentes e jovens no estado: 107 assassinatos de pessoas na faixa de 12 a 17 anos, em sua maioria, por arma de fogo.

Gráfico SSP-AL (Abril/2018)

Muito? Mais ainda. Alagoas fechou 2017 com um “listão” de 239 crimes violentos letais e intencionais, envolvendo vítimas de 12 a 17 anos. No Boletim Anual de Estatística Criminal disponibilizado no sítio da SSP/AL http://seguranca.al.gov.br/estatisticas/31/, esse número que corresponde a 12,5 % dos 1913 registros em geral (verdadeiro, estado de guerra), ocorridos de janeiro a dezembro.

Este ano, até o final de abril, conforme uma rápida conferida no sítio da SSP, o Blog somou 496 ocorrências de crimes violentos letais e intencionais registradas nos quatro boletins mensais,  tendo cerca de  60 delas  adolescentes como vítima. Dos 101 registros do mês de janeiro, 9,3% vitimaram adolescentes (12 a 17 anos); em fevereiro, 115 registros, 12%  vítimas adolescentes; em março, 133 ocorrências, 12,4%, vítimas adolescentes; e, em abril, 147 ocorrências, 10,9 %,  vítimas adolescentes.

Basta lembrar que, em fevereiro deste ano, a imprensa alagoana noticiou as mortes brutais de dois adolescentes, um deles, também no município de Rio Largo. A primeira vítima, de 15 anos foi encontrada com marcas de tiros e pedradas, na região da Mata do Rolo.  A outra vítima, de 17 anos, foi encontrada amarrada pela cintura com ferimentos à bala e pedras, no bairro da Pitanguinha, em Maceió, em meio a uma grota.

O Blog ouviu o advogado Cláudio Beirão, coordenador do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca /Alagoas) sobre as mortes do último final de semana. Ele foi enfático, “os grupos de extermínio estão retomando sua atuação de forma mais ostensiva”.

Para Beirão e grande parte de militantes de direitos humanos ligados à infância e juventude no estado, trata-se de uma realidade que, infelizmente, sustenta-se na omissão do Estado, com a complacência da própria sociedade, na garantia da execução das políticas públicas para essa faixa de idade.

De fato, o menino ou menina que não está na escola, não tem assistência alguma, é quase invisível.  Só aparece para a sociedade quando tem sua imagem associada à apreensão por ato infracional ou quando seu nome é divulgado em “listões de mortos”.

Será mesmo que essa estatística precisa seguir seu rumo, à margem da atenção do Estado e da sociedade? Se seguir, quem é que vai pagar por isso?

 

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