O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta terça-feira (9), em cerimônia no Palácio do Planalto, decreto que institui o programa Adote um Parque, criado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) para permitir que pessoas físicas e jurídicas, nacionais e estrangeiras, doem bens e serviços que serão destinados a atividades de preservação de unidades de conservação.
De acordo com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pessoas físicas e empresas nacionais que participarem do programa deverão doar um valor inicial de R$ 50 por hectare. No caso de empresas ou personalidades estrangeiras, o valor será de 10 euros por hectare.
“O volume total previsto, se todos os parques fossem adotados por esse valor, que é o mesmo para pessoa física e jurídica, é em potencial de R$ 3 bilhões”. Ricardo Salles.
Fundo Amazônia
A medida acontece mais de dois anos após Jair Bolsonaro e sua então equipe de transição, no final de 2018, iniciar o que seria uma sabotagem ao fundo Amazônia. De forma semelhante ao que fez quando acabou com o programa Mais Médicos.
Em novembro de 2018, o então deputado federal e futuro ministro da Casa Civil (na época), Onyx Lorenzoni foi irônico em entrevista coletiva ao comparar as atuações do Brasil e Noruega em relação à preservação do meio ambiente.
“O que nós fizemos não vale nada, o que vale é a Noruega. E a floresta norueguesa, quanto eles preservaram? Só uma coisa importante que tem que ser lembrada: o Brasil preservou a Europa inteira territorialmente, toda a União Europeia, com as nossas matas, mais cinco Noruegas. Os noruegueses têm que aprender com os brasileiros, e não a gente aprender com eles”. Onyx Lorenzoni.
Onyx foi incompetente ou mal intencionado em sua fala, já que Brasil e Noruega firmaram um acordo em 2009 para que o país europeu fosse um dos principais doadores do Fundo Amazônia.
Até 2017, foram contabilizados mais de US$ 1,1 bilhão em doações. Um ano antes da declaração, o Fundo Amazônia havia recebido uma doação de R$ 139,3 milhões do governo norueguês e uma de R$ 139,3 milhões do Banco de Desenvolvimento da Alemanha.
Bolsonaro contra Noruega e Alemanha
Já presidente, em agosto do ano seguinte, Jair Bolsonaro contaria (mais) uma mentira: ele postou um vídeo editado com imagens de uma caça tradicional realizada nas Ilha Faroe, da Dinamarca. O objetivo do vídeo era criticar a Noruega que, claro, é um país diferente.
– Em torno de 40% do Fundo Amazônico vai para as… ONGs, refúgio de muitos ambientalistas. Veja a matança das baleias patrocinada pela Noruega. pic.twitter.com/46hpQnHSJA
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) August 19, 2019
O ímpeto do vídeo surgiu para justificar o desdém, e suposta hipocrisia dos noruegueses, por causa da suspensão de repasse de recursos ao Fundo Amazônico. Mas uma semana antes, Bolsonaro dizia que o Brasil não precisava do repasse de R$ 132,6 milhões:
“A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a dar exemplo para nós. Pega a grana e ajude a Angela Merkel a reflorestar a Alemanha”. Jair Bolsonaro, presidente.
No total, a Noruega já doou mais de R$ 3 bilhões. Como de costume, ele também recuou na declaração e pediu doações para o fundo Amazônia, mas já era tarde demais.
No mesmo ano, o (ainda) ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atacou, com fake news, o fundo dos noruegueses. Não é de se imaginar que houve uma sabotagem, um trabalho interno, para facilitar o desmate. Seja em benefício da agropecuária, madeireiros ou mineradores.
A embaixada da Alemanha no Brasil, no mesmo período, também respondeu sobre a necessidade reflorestar – após Bolsonaro também fazer desdem do apoio alemão, também retirado:
Em tempo: hoje, o desmatamento na Amazônia é o maior dos últimos dez anos. Com um crescimento de 30% em 2020 em comparação com 2019, 8 mil quilômetros de floresta foram destruídos entre janeiro e dezembro do ano passado. É como se a cidade de São Paulo desaparecesse, cinco vezes.