29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Infecção no vacinado Queiroga leva bolsonaristas a questionarem medidas contra Covid-19

Bolha nas redes sociais despreza passaporte da vacinação após o “precavido” ministro da Saúde testar positivo e Bolsonaro não

O ministro da Saúde Marcelo Queiroga, que estava na comitiva do presidente Jair Bolsonaro para o discurso na 76ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York testou positivo para Covid-19. Com isso, ele precisa passar por uma quarentena e não voltou para o Brasil.

E o ilustro caso do titular desta pasta na pandemia, que é contra obrigação da vacinação e recomenda não imunizar adolescentes, além de vestir a camisa do bolsonarismo e defender seu presidente com o dedo médio contra protestantes, já deveria ser o suficiente para fechar com chave de ouro a questionável passagem da comitiva brasileira nos EUA.

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Mas existem as bolhas, o Twitter, os grupos de Whatsapp ou Telegram. A desinfirmação, o fechar de olhos para fatos e evidências. O estar fechado com o mito Bolsonaro.

Ao invés de vergonhosa, a infecção de Queiroga foi transformada em ponto positivo (assim como o teste de Covid dele) nas redes sociais. O termo “Vacinado” amanheceu nesta quarta (22) como tendência no Twitter, que cada vez mais se consagra como bastião de retórica rasa, desinformadora, agressiva e mentirosa.

Os perfis, reais ou não, levantam o debate: se Queiroga vacinado pegou Covid-19 e o negacionista do Bolsonaro não, pra que a exigência do passaporte da vacina?

É a mesma ladainha de sempre, com bandeiras de Israel e Estados Unidos ao lado da Brasileira (que, anotem aí, ganharão também a companhia da bandeira da Polônia) questionando, desviando do assunto, informando errado, abusando do silogismo. Como diria o senador Marcos Rogério, capacho na CPI, pura “narrativa”.

Dentre os perfis, “fica o questionamento” de coisas básicas, como o caso “incomum” de um vacinado infectado, a obrigação ou não de vacinação e como Bolsonaro é um exemplo de que a imunização não funciona tão bem quando o tratamento precoce.

Estas questões básicas, na verdade, já deveriam ter sido superadas. Estamos em setembro de 2021. A doença “nova” surgiu no final de 2019 e já foi tão estudada, já há tantos casos emblemáticos, tantos dados a serem analisados que praticamente não se deveria ter espaço para tanta desinformação. Dá até para resumir rápido:

  • Vacinado ainda pega Covid-19?
    Sim. A imunização com vacina não é mágica e dura pouco tempo. Apesar da variante Delta quebrar mais barreiras, as chances de um vacinado ser assintomático ou mesmo ter um caso leve são muito maiores do que o contrário.
  • Por que Bolsonaro, que não foi vacinado, não foi infectado?
    O ministro e o presidente não ocupam o mesmo lugar no espaço; Queiroga foi o segundo positivo da comitiva, o tempo de incubação é de uma semana e todos precisam ser observados; Bolsonaro diz que não se vacinou, mas impôs sigilo de 100 anos no cartão de vacinação, pois deve ter se vacinado para salvar a própria vida (como a da mãe dele), sem ter que voltar atrás pro que falou no gado e não perder o apoio.
  • Queiroga usa máscara 24h por dia e Bolsonaro não e mesmo assim pega?
    Ninguém usa máscara 100% do tempo (ele nem mesmo é adepto delas), o ministro da Saúde esteve em viagem com diversas pessoas, com mais chances de se infectar. Além disso, não existe pulverização em infecção e as pessoas próximas, se contaminadas, testariam positivo dentro de alguns dias.
  • Pra que usar máscara se a pessoa foi vacinada?
    Para diminuir a carga viral. Com o equipamento de proteção, menos partículas de ar com vírus entram nas vias aéreas e quanto menos corpos estranhos, mais fácil o sistema imunológico da pessoa poderá lidar. Não é porque seu carro tem airbag que você deixará de usar cinto de segurança. Fora que a máscara deve ser usado para proteger os outros. Quem estava com Queiroga, praticamente não usa.
  • Então pra que o passaporte sanitário para vacinados?
    Questão de proporção. Queiroga vacinado e com máscara tem menos chances de ter uma carga viral maior em seu corpo. São menos vírus se reproduzindo e menos disso dele espalhando. Alguém que caga e anda como Bolsonaro espalharia mais o vírus e, como vimos nestes últimos meses, a pandemia ainda não acabou por causa de gente assim.
  • Coronavac presta?
    Queiroga tomou duas doses da vacina. Mas como as demais pessoas, logo precisará de dose de reforço, pois a pandemia está durando por causa das variáveis em outros países e de medidas de relaxamento, como o não uso de máscara. Além disso, vacina nenhuma é invencível.
  • E quem não quer se vacinar?
    Se vacine. É grátis, seguro e todos precisam ser imunizados para essa porcaria de pandemia acabar. Ninguém gosta de usar máscara, o problema é que não tem gente ajudando.
  • Por que não é melhor usar tratamento precoce?
    Todos os fatos, todos os dados, tudo apresentado nestes últimos meses mostra que remédio de verme ou para doença autoimune não serve contra o vírus. O que Bolsonaro fez na ONU foi puro charlatanismo. Mas se quer abusar de Invermectina ou Cloroquina, faça como Queiroga dentro daquele ônibus: enfie e rode.

Líder da seita

Como todo líder de uma seita que se preze, Bolsonaro deveria ser insano o suficiente para acreditar no que fala. Afinal, biblicamente, ele afirma que a verdade o libertará. Sendo este o caso, fica a dica para o presidente: nunca se vacine.

Jair Bolsonaro precisa acreditar em seu discurso. Ele afirma que já fez o melhor ao seu sistema imunológico ao ser infectado com o novo coronavírus. Portanto, não precisaria ser vacinado, como perguntaria um imbecil. Afinal, só “idiota” pediria pra comprar mais vacina, só se for na casa da mãe.

Mas ele diz para seu gado, para seus seguidores, que a vacina não é necessária. Ainda mais a “vachina”, usada em 80% dos casos no Brasil. Então ele precisa ouvir mais seus próprios conselhos. Fazer parte do povo, abraçar de vez o bolsonarismo.

Bolsonaro precisa seguir com o povo. Mas nos hospitais, onde também precisam de sua presença. E que vá sem máscara, pois é “coisa de viado“. Tem que abraçar e dar beijo hétero em médico que receita tratamento precoce. Fazer nebulização de hidroxicloroquina. Abusar de ivermectina. Enfiar ozônio no rabo. Encarar o vírus como homem, e não maricas.

Basta que ele acredite nos seus ideais e ignore todos os sinais. Afinal, é só uma gripezinha. Ele precisa ser um patriota. Dar o valor à sua vida o mesmo que a nossa vem valendo aos seus seguidores: nada.

Sugerir isso não é errado, pois ele fala com tanta convicção, parece estar tão certo disso (convenhamos, é literalmente o que ele vem sugerindo há mais de um ano) que não há outra alternativa que não o líder dos bolsonaristas encarar de perto e seu medo o vírus.

Tão certo quanto saber que se tem alguém para culpar nessa tragédia nacional, é Jair Bolsonaro, presidente da República, que infelizmente tem tirado a vida de muitos brasileiros.