28 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Juventude e militância: quando a histeria política se torna um problema

Greg Lukianoff e Jonathan Haidt | Divulgação

Por Thiago Eloi*

Evidências apontam que adolescentes americanos — especialmente garotas progressistas — estão adoecendo mentalmente. O porquê é algo que os estudiosos Greg Lukianoff e Jonathan Haidt tentam responder.

Em resumo, a teoria de Greg é que esses jovens estão sendo guiados por uma espécie de “terapia cognitivo-comportamental reversa”, que se formou nas redes nos anos 2010.

Greg é presidente de uma fundação que trabalha, incansavelmente, desde 2001 para defender os direitos de liberdade de expressão dos estudantes universitários. No final de 2013, Greg começou a encontrar casos em que os alunos estavam pressionando para proibir palestrantes, punir pessoas por discurso comum ou implementar políticas que refreassem a liberdade de expressão. Esses alunos chegaram ao campus no outono de 2013 já aceitando a ideia de que livros, palavras e ideias poderiam prejudicá-los. Greg começou a refletir: “Por que tantos estudantes em 2013 acreditavam nisso, quando havia poucos sinais de tais crenças em 2011?”

Greg, que é propenso à depressão, passou por uma hospitalização devido a um episódio grave em 2007. Lá, aprendeu sobre a TCC (Terapia Cognitiva-Comportamental). Na TCC, você aprende a reconhecer quando suas ruminações e padrões de pensamento automático exemplificam uma ou mais de cerca de uma dúzia de “distorções cognitivas”, como catastrofização, pensamento em preto e branco, adivinhação ou raciocínio emocional. Pensar dessa maneira causa depressão, além de ser um sintoma de depressão. Romper com essas distorções dolorosas é uma cura para a depressão.

O que Greg viu em 2013 foram alunos justificando a supressão do discurso e a punição da dissidência usando as distorções exatas das quais Greg aprendeu a se livrar. Os alunos diziam que um orador heterodoxo no campus causaria sérios danos a alunos vulneráveis (catastrofização); eles estavam usando suas emoções como prova de que um texto deveria ser removido de um programa (raciocínio emocional). Greg levantou a hipótese de que, se as faculdades apoiassem o uso dessas distorções cognitivas, em vez de ensinar aos alunos habilidades de pensamento crítico (que é basicamente o que é a TCC), isso poderia fazer com que os alunos ficassem deprimidos. Greg temia que as faculdades estivessem realizando uma espécie de TCC reversa.

Em setembro de 2020, Zach Goldberg descobriu algo interessante em um conjunto de dados divulgado pela Pew Research[1]. O Pew entrevistou cerca de 12.000 pessoas em março de 2020. A pesquisa incluiu este item: “Algum médico ou outro profissional de saúde já lhe disse que você tem um problema de saúde mental?” Ele descobriu que os liberais brancos eram muito mais propensos a dizer sim do que os moderados e conservadores brancos.

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Há também um estudo[2] de 2022 que mostra a interação entre gênero e política, intitulado “A política da depressão: tendências divergentes na internalização de sintomas entre adolescentes americanos por crenças políticas”. A pesquisa toca em quatro pontos sobre humor/depressão. Os autores descobriram que antes de 2012 não havia diferenças sexuais e apenas uma pequena diferença entre progressistas e conservadores. Mas a partir de 2012, as garotas progressistas começaram a subir, e foram as que mais subiram. Os outros três grupos seguiram o exemplo, embora nenhum tenha subido tanto, em termos absolutos, quanto as garotas progressistas (que subiram 0,73 pontos desde 2010, em uma escala de 5 pontos em que o desvio padrão é 0,89).

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Greg e Haidt argumentam que esses jovens apoiam-se sobre três “grandes inverdades”:

  1. O que não te mata te deixa mais fraco;
  2. Sempre confie em seus sentimentos;
  3. A vida é uma batalha entre pessoas boas e pessoas más.

Sobre a primeira inverdade, Haidt argumenta: “Eles passaram a acreditar que eram frágeis e seriam prejudicados por livros, alto-falantes e palavras, que aprenderam como formas de violência.”

Sobre a segunda: “Eles passaram a acreditar que suas emoções – especialmente suas ansiedades – eram guias confiáveis para a realidade.”

Sobre a última: “Eles passaram a ver a sociedade como composta de vítimas e opressores – pessoas boas e pessoas más.”

E faz sentido. Jovens progressistas abraçaram essas crenças mais do que os conservadores. Garotas feministas os adotaram mais do que qualquer outro grupo. Essas distorções cognitivas com certeza fazem com que jovens se tornem mais ansiosos e deprimidos.

Por exemplo, nunca vi virtude alguma nessa visão dicotômica — onde há apenas preto e branco, bom e mau etc. — tão defendida por Foucault, Paulo Freire e outros. Não há um estímulo ao real pensamento crítico. Há simplificação tola e excessiva e falta de evolução. É importante reconhecer a complexidade moral e ética das ações humanas, estar aberto ao diálogo e à compreensão mútua. Acreditar que existem apenas oprimidos e opressores é uma forma limitada de entender a natureza humana e o mundo em que vivemos. Propagar essas três inverdades é um grande desserviço para a evolução mental.

REFERÊNCIAS

Leia mais sobre isso aqui: https://jonathanhaidt.substack.com/p/mental-health-liberal-girls

[1] https://www.pewresearch.org/social-trends/dataset/covid-19-late-march-2020/

[2] https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2666560321000438?via%3Dihub

*É estudante de Geografia da Ufal