11 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Policia

Mulher morre após PMs reagiram a assalto no Rio

Dois policiais que estavam à paisana no veículo reagiram em ação que deixou outras duas pessoas feridas

Imagem: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Apesar de não ser desejo de maioria da população, o Governo Federal insiste em ampliar a posse e porte de arma no Brasil, com a ideia de que isso poderia reduzir os índices de violência no país. E eles não percebem o quão perigoso pode ser armar tanta gente, já que, até quando situações de reação envolvendo pessoas preparadas, inocentes morrem. E aconteceu novamente no Rio de Janeiro.

Uma tentativa de assalto em um ônibus, nesta madruga na zona norte do Rio, terminou com dois homens feridos e uma mulher morta. Ainda não há uma versão oficial do que aconteceu, mas sabe-se que dois policiais que estavam à paisana no veículo e estiveram envolvidos em um tiroteio.

Segundo a Polícia Militar do Rio, dois bandidos entraram no ônibus, pagaram a passagem e um ponto depois anunciaram o assalto. E os dois policiais militares que estavam no veículo reagiram.

No tumulto e correria, o motorista abriu a porta para que os passageiros fugissem, quando uma mulher identificada como Luzimar Oliveira foi baleada e não resistiu. Ela estava indo trabalhar. Outras duas vítimas que também foram atingidas pelos disparos foram levadas para o hospital municipal Salgado Filho, também na zona norte.

Os bandidos conseguiram fugir. De acordo com a PM, no interior do ônibus foram encontradas uma pistola falsa e uma faca, mas não se sabe se os criminosos tinham uma arma de verdade e atiraram ou se os disparos foram feitos apenas pelos policiais.

Mortes e reações

Em dezembro do ano passado, uma tentativa de assalto a duas agências bancárias acabou com pelo menos 13 pessoas. Entre os mortos estão sete suspeitos e seis reféns. Entre eles, estão duas crianças, entre 10 e 13 anos. Os reféns mortos seriam de cidades vizinhas e estavam a caminho de um aeroporto. Cinco deles eram da mesma família e haviam partido de Salgueiro.

O acontecimento lamentável aconteceu dias após o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) usar seu perfil no Twitter para elogiar a ação de policiais militares, que terminou com a morte de um assaltante que fazia uma mulher refém após o roubo a uma joalheria, no Rio de Janeiro.

Já em abril, uma tentativa de assalto a duas agências bancárias no município de Guararema, na região metropolitana de São Paulo, terminou com dez pessoas mortas. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, todas as vítimas eram criminosos envolvidos na ação.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foram alguns dos nomes da política que enalteceram a ação. Que, vale a pena mencionar, com muita perícia não houve inocentes entre os feridos.

Entretanto, o discurso de que a polícia tem que atirar pra matar e levar bandido direto para o cemitério, não pra prisão, é entonado em coro por seus fãs e partidários. Mensagem obtusa, pois nela é esquecida que no fogo cruzado nas grandes cidades, há inocentes. Uma imensa maioria que quer apenas viver com sua vida, alheio à toda essa violência.

Quatro dias depois, um carro de família foi fuzilado pelo Exército no Rio de Janeiro. O presidente demorou a reagir e quando falou, falou besteira: disse que o Exército não matou ninguém. Dois inocentes morreram.

“O Exército não matou ninguém, não. O Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de assassino. Houve um incidente. Houve uma morte. Lamentamos ser um cidadão trabalhador, honesto”. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil.

Segundo mostra o estudo Atlas da Violência 2019, divulgado hoje, em 2017 foram 65.602 mortes violentas –um crescimento de 4,2% em relação ao ano anterior. A taxa de homicídios do país chegou a 31,6 mortes a cada 100 mil habitantes.

A publicação, elaborada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), utiliza dados do Ministério da Saúde para contabilizar as mortes violentas no país. O Rio Grande do Norte é o estado mais violento do país, com 62,8 homicídios por 100 mil habitantes. São Paulo, que apresentou taxa de 10,3 mortes, tem o menor índice.

Onyx na CCJ

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou a convocação do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para prestar esclarecimentos sobre o Decreto 9.875/19, que amplia a posse e o porte de armas no país. Por se tratar de convocação, Lorenzoni é obrigado a comparecer ao colegiado.

Segundo o autor do pedido, deputado Aliel Machado (PSB-PR), mesmo após edição de novo decreto, é importante que o governo discuta eventuais vícios de constitucionalidade no dispositivo. Ainda não há data para participação do ministro.

O ministro da Casa Civil, que vez ou outra usa de dados mentirosos para justificar atos do governo Bolsonaro, já chegou a afirmar que liquidificadores são mais perigosos que armas para crianças.

“A gente vê criança pequena botar o dedo dentro do liquidificador e ligar o liquidificador e perder o dedinho. Então, nós vamos proibir os liquidificadores? Não. É uma questão de educação, é uma questão de orientação. No caso da arma, é a mesma coisa. Então, a gente colocou a exigência de cofre para mais uma vez alertar e proteger as crianças e os adolescentes”. Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, homem forte do governo Bolsonaro.

Segundo Lorenzoni, é preciso “cuidado redobrado” com arma. Ele afirmou ter criado quatro filhos com uma arma dentro de casa e todas foram ensinadas a não brincar com a mesma. Entretanto, ele não falou em cuidado redobrado com utensílios domésticos.

O ministro já defendeu ainda o direito do cidadão circular com a arma de fogo na área rural, já que é possível se deparar “com cobras, onças e bandidos”.