6 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Blog

Pensar melhor nos faz viver melhor

Reprodução/Internet

Por Thiago Eloi*

Se eu fosse escrever um livro, seria sobre como adotar um pensamento mais racional me fez viver melhor. Acompanhar os vídeos do Carlos Manuel, um ex-trans (Catty Lares) que agora se diz convertido, me fez refletir sobre esse meu desejo. Noto, há muito tempo, pessoas adotando e abandonando essa vida puritana o tempo todo (e, olha, não são poucas!). Percebo aí essa falta de pensamento crítico em relação às próprias escolhas.

Desde a época do Orkut discuto com religiosos sobre temas como homossexualidade. Sempre pedi pra me convencerem, racionalmente, que dois homens adultos, trocando carícias entre si e com o consentimento de ambos, é algo imoral. Acreditem: nunca conseguiram. O desafio continua de pé.

Certa vez o filósofo esloveno Slavoj Žižek inverteu a lógica comumente associada ao pensamento niilista. Segundo ele, não é porque Deus não existe que tudo é permitido; é justamente porque Deus existe – ele se refere à ideia, não trata isso como um fato – que tudo é permitido, desde que seja em seu nome. Cristãos, por exemplo, adoram usar a história de Abraão e seu filho como um exemplo de devoção e fidelidade:

E vieram ao lugar que Deus lhes dissera, e edificou Abraão ali um altar, e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque, seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha. 10 E estendeu Abraão a sua mão e tomou o cutelo para imolar o seu filho.

Pois eu acho uma história completamente horrível. Ela nos faz refletir inclusive sobre esse jusnaturalismo teólogico, que conservadores adoram defender.

Considerando o fato de que vivemos numa sociedade regida por um livro que dizem ser a palavra direta de Deus, buscar agir de forma racional é a melhor ferramenta para não vivermos uma dolorosa ilusão. Afinal, isso sim é niilismo!

Se Deus, ou um desses seus porta-vozes, vestido de palitó e gravata, viesse me dizer que (1) estou errado em me deitar com outro homem ou (2) devo matar o meu próprio filho como sinal de obediência e amor a Deus, de prontidão eu o indagaria:

Por quê?

Essa é a diferença entre mim e Carlos Manuel. Essa é a diferença entre mim e Abraão.

*É estudante de Geografia da Ufal