28 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Secretário de Assuntos Fundiários: “MST tem que se preocupar”

Ruralista comandará ainda pasta dedicada ao fomento da agricultura familiar

A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) mostrou apreensão com a indicação do ruralista Nabhan Garcia para a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários. Segundo a instituição, o governo Bolsonaro terá de largar a retórica e lidar com a tensão de movimentos para evitar conflitos.

“Achar que não vai fazer reforma agrária e, na base da força, vai ter um campo pacifico é ilusão, os trabalhadores vão continuar lutando”, disse o secretário de política agrária da Contag, Elias Borges.

Borges observou que os casos de violência no campo se intensificaram e citou a derrubada de barracos na beira de estrada, fora de propriedades, e disparos de tiros.

“A realidade que conhecemos bem é uma só”, respondeu Garcia. “A realidade é que essas pessoas são usadas como massa de manobra por ditos movimentos sociais, que de sociais não têm nada”, disse, explicitando não se referir à Contag.

“É essa hipocrisia de quem submete seres humanos, crianças, velhos, idosos, para ficar lá, humilhados debaixo de barraca de lona. Isso que é uma violência, mas nessa hora você não vê nenhum movimento de direitos humanos denunciar.”

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não comentou a indicação de Garcia, presidente da UDR (União Democrática Ruralista). “Se o MST está preocupado, tem que se preocupar mesmo, porque tem que parar de invadir propriedade”, afirmou Garcia.

O ruralista disse que, dentro do Ministério da Agricultura, além da secretaria para a qual foi designado, também estará acomodada uma pasta dedicada ao fomento da agricultura familiar.

Nabhan Garcia

O presidente da UDR (União Democrática Ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia, 60, era cotado para assumir o ministério da Agricultura no governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), mas viu o amigo de quase três décadas anunciar a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) para o cargo.

“Apoiei o Bolsonaro desde o início. Nunca fui um apoio de segundo tempo”, desabafou o pecuarista, que organizou a primeira viagem do então candidato após o início oficial da campanha, um tour pelo interior de São Paulo iniciado por Presidente Prudente (SP), terra natal de Nabhan. Na avaliação dele, venceu a “força do poder político”.

O pecuarista diz esperar que o governo cumpra a promessa de pôr fim à “velha política”, mas fez questão de lembrar que desde a pré-campanha Bolsonaro alardeou que iria escolher para a pasta alguém indicado pela “base produtora”.

Desde a eleição, o ruralista se envolveu em atritos públicos e reservados com o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil, que é correligionário de Tereza.

Irritado, o presidente da UDR enviou em um grupo de WhatsApp da entidade uma mensagem dizendo que já viu “muito pavão virar espanador”. A crítica vazou e apareceu em reportagem da revista Piauí. E suas chances como ministro acabaram ali.