28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Com Covid-19, Osmar Terra dá entrada em hospital de Porto Alegre

Parlamentar deve seguir em observação nos próximos dias

O deputado federal Osmar Terra deu entrada no domingo (22) no Hospital São Lucas, de Porto Alegre. O próprio parlamentar confirmou que está com Covid-19 e fará exames de avaliação e fisioterapia no tratamento da doença.

O tratamento visa “acelerar volta ao trabalho o mais breve possível”. Segundo o hospital, ele seguirá em observação durante os próximos dias.

Terra afirma que fez tratamento precoce com hidroxicloroquina e ivermectina. Também Começou o isolamento em casa e cumprirá a agenda de forma remota nos próximos dias.

Estudos no Brasil e no exterior já negaram a eficácia da hidroxicloroquina no combate à doença. E a Anvisa diz que “não existem estudos conclusivos” para o uso dos antiparasitários, como a ivermectina.

Mentiroso

Apesar de não ser mais ministro desde que foi demitido em fevereiro da pasta da Cidadania, o deputado federal Osmar Terra é presença constante no Palácio do Planalto. E como um médico defensor da cloroquina e avesso às medidas de isolamento social, já é visto como “ministro informal” da Saúde do presidente Jair Bolsonaro.

Desde maio, Terra já esteve diversos compromissos oficiais com o presidente, com o presidente estando mais ao seu lado, do que o de Eduardo Pazuello, general que foi efetivado no comando do Ministério da Saúde após quatro meses como interino na função.

Entre estes compromissos, estava o de reunir os  “Médicos pela Vida”, grupo de profissionais defensores da cloroquina, que não têm eficiência comprovada no tratamento da covid-19, além de ter ajudado a conceber o criticado evento “Brasil vencendo a covid”.

Enquanto o Brasil “vencia a covid”, o país passava a marca de 115 mil mortes em decorrência da pandemia. Hoje já são mais de 170 mil.

Vale lembrar que em março o deputado fez projeções que não se confirmaram: apenas 40 mil casos (hoje temos mais de 6 milhões) e no máximo 2.000 mortos.

Nem mesmo depois de errar sua projeção em 85 vezes, ele recuou. Quando o Brasil ainda tinha 10 mil mortes por coronavírus, Osmar Terra continuava criticando o isolamento social. “Depois que a epidemia está circulando, trancar as pessoas em casa é um erro”.

Bolsonaro, claro, compartilha as ideias de Terra. Ao longo da pandemia, ambos foram na contramão das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo o fim do isolamento social, mas não apresentaram comprovações técnicas para fundamentar o argumento.

E cá estamos aqui hoje: em novembro e um exército de negadores da pandemia atrapalhando medidas simples da contenção do vírus, como uso da máscara e distanciamento social. Ao contrário do que previa insistentemente, a pandemia ainda não tem data para acabar no Brasil.

As mentiras

No início da pandemia, o deputado e ex-ministro publicou em seu perfil no Twitter um diagrama mostrando a queda nos novos casos de Covid-19 na Holanda. Avesso ao distanciamento social, no tweet, o deputado afirmou: “a Holanda, que não fez quarentena e não fechou uma loja, já passou do pico e está indo para o fim da epidemia”.

No entanto, o Governo da Holanda pediu que todas as pessoas ficasse em casa, além de manter escolas, restaurantes, bares, clubes, museus e academias com as portas fechadas. Eventos públicos foram proibidos, incluindo cultos religiosos. O Twitter chegou a apagar suas mensagens, pois propagavam mentiras.

Em outra publicação, Terra questionou a ‘quarentena radical’ de países como os Estados Unidos, Itália, Espanha, Irã e Alemanha. Em sua publicação o deputado afirmou que a medida não teve resultados:

“No Brasil, onde estamos sendo submetidos a uma quarentena radical que destrói nossa economia e empregos, eu pergunto: onde está o achatamento da curva??!! NÃO EXISTE. Com a quarentena ou não, chegaremos ao pico da epidemia antes do final de abril!”. Osmar Terra, em abril.

A publicação causou incômodo nas redes sociais e contradizia o então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, fazendo o termo ‘Osmar Trevas’ ficasse entre um dos mais comentados do Twitter no Brasil.

Entre os seguidores que questionaram o deputado, o repórter do Intercept Brasil , Andrew Fisher, chamou Osmar Terra de mentiroso e idiota.

Quando estava sendo cotado para o Ministério da Saúde, com o apoio de bolsonaristas que se opõem a medidas de isolamento social, Terra era o parlamentar que mais difundiu desinformação sobre o novo coronavírus no Twitter desde que a pandemia chegou ao Brasil.

A análise do Radar Aos Fatos considerou os 1.500 tweets sobre o assunto com mais interações (retweets e curtidas) publicados por membros da Câmara dos Deputados e do Senado (incluindo suplentes e licenciados) entre 20 de fevereiro e 8 de abril.

No total, foram encontradas 159 postagens com desinformação veiculadas por 22 parlamentares e que somavam cerca de 1,58 milhão de interações no período.

Terra foi, sozinho, responsável por 38 desses posts (23,9%) e 522.485 dessas interações (32,9%). Em seguida, aparecem como maiores difusores de desinformação os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), cujas publicações enganosas tiveram 18% das interações, e Bia Kicis (PSL-DF), com 10%.

Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania, era um dos nomes de Bolsonaro para substituir Mandetta na Saúde

Ministro afundou estudo de drogas

Durante três anos, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez 16 mil entrevistas com 500 pesquisadores para desenvolver o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira.

Este, um censo do consumo de substâncias lícitas e ilícitas no Brasil, custou R$ 7 milhões, pagos pelo governo. Mas acabou sendo engavetado pelo mesmo, já que a Fiocruz foi impedida de divulga-lo.

O estudo teria sido engavetado em 2019 porque não confirma a existência de uma epidemia de drogas no país, e vai de encontro com o achismo do então ministro da Cidadania, Osmar Terra.

E embora a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas ( Senad ), órgão ligado ao Ministério da Justiça, alegue que a pesquisa não é divulgada porque a Fiocruz não teria cumprido exigências do edital, o próprio Osmar Terra parece confirmar o que suspeitam os especialistas ao atacar a instituição e alegar que a pesquisa não comprova o que se vê “nas ruas”:

“Eu não confio nas pesquisas da Fiocruz. Se tu falares para as mães desses meninos drogados pelo Brasil que a Fiocruz diz que não tem uma epidemia de drogas , elas vão dar risada. É óbvio para a população que tem uma epidemia de drogas nas ruas. Eu andei nas ruas de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada. Temos que nos basear em evidências”. Osmar Terra, ministro da Cidadania.

Rejeitando o estudo, sua pasta preferiu seguir em frente com essa antiquada campanha contra drogas: