28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Com Maia fora, Arthur Lira amplia favoritismo para presidir a Câmara

Líder do centrão e aliado de Bolsonaro, no entanto, tem problemas na justiça, como a “rachadinha” mensal de meio milhão

Como o STF decidiu que Davi Maia (DEM) não poderá mais ser reeleito à presidência da Câmara dos Deputados (leia aqui), o deputado alagoano Arthur Lira (PP), líder do centrão, se tornou amplo favorito a presidir a Casa em 2021.

Lira, aliado de peso do presidente Jair Bolsonaro, comanda uma bancada de cerca de 170 parlamentares e é um forte articulador político. Que, claro, em troca de apoio ao governo, negociou a nomeação de aliados para importantes cargos federais.

Curiosamente, o presidente do PP personifica a “velha política”, a mesma que Jair Bolsonaro ameaçou de extinção durante a campanha de 2018. No comando do Centrão, o deputado esteve ao lado, também, dos governos dos então presidentes Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT).

Advogado, pecuarista e empresário, Lira, de 51 anos, é filho do senador Benedito de Lira e iniciou a carreira política em 1993, sendo vereador em Maceió e deputado estadual por Alagoas.

Na Câmara, está no terceiro mandato consecutivo de deputado federal e chama a atenção de seus pares pelo profundo conhecimento do Regimento Interno da Câmara, fruto da formação em direito.

Corrupção

A questão é que apesar de desfrutar de prestígio na Câmara, Arthur Lira não é recebido da mesma forma na Justiça. Em novembro, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou um recurso do parlamentar e decidiu mantê-lo como réu em um processo por corrupção.

Lira é acusado de ter recebido, em 2012, propina de R$ 106 mil do então presidente da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), Francisco Colombo.

Segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Colombo queria que Lira articulasse apoio político no PP para mantê-lo no comando da CBTU.

Em junho de 2020, a PGR denunciou ao STF que, em 2012, Lira recebeu R$ 1.588.700 provenientes de valores desviados de obras da Petrobras executadas pela empreiteira Queiroz Galvão. Em abril, também em 2020, a 1ª Vara Federal de Curitiba decretou o bloqueio mensal de 10% dos salários de Lira e de outros parlamentares.

Lira também foi denunciado pela PGR, com o pai, em setembro de 2015. Eles são acusados dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por receberem propina no valor de R$ 2,6 milhões, nos anos de 2010 e 2011, também enrolados com a Petrobras.

Rachadinha

Em maio de 2018, Lira foi acusado de comandar um esquema de “rachadinha”, à época em que era deputado estadual na Assembleia Legislativa de Alagoas.

Conforme denúncia da PGR, as irregularidades ocorreram entre 2001 e 2007, causando prejuízo de R$ 254 milhões aos cofres públicos. O parlamentar foi acusado de ter um rendimento mensal de R$ 500 mil com o recebimento de parte dos salários dos servidores da Assembleia.

Entretanto, o juiz Carlos Henrique Pita Duarte, do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL), considerou as provas do processo ilegais e absolveu o deputado, em decisão divulgada na sexta-feira.

O Ministério Público anunciou que vai recorrer da decisão.

Bolsonaro

Na presidência, Bolsonaro não só deixou de odiar o centrão como também passou a abusar do “toma lá dá cá” e outras práticas tradicionais da política brasileira.

Acuado por investigações, alvo de dezenas de pedidos de impeachment na Câmara, o chefe do Executivo acabou se jogando nos braços do centrão, ao qual assegurou, como fizeram Dilma e Temer, um amplo espaço de participação no governo.

E, como não dá pra imaginar diferente, Arthur Lira é o homem que o presidente Jair Bolsonaro quer para presidir a Câmara dos Deputados a partir de fevereiro de 2021. Mesmo diante da ficha criminal de Arthur Lira.

Vale lembrar: Bolsonaro elegeu-se com a ideia de que combateria tudo o que Lira é acusado de fazer. Como presidente, ele seria intolerante com os ladrões do Congresso, acabar com a corrupção do país e seria impiedoso com o “establishment”. Mas não dá pra escrever o que Bolsonaro fala.