28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Congresso acredita que prisão de Temer seria contra-ataque de Moro a Maia

Prisões ocorrem um dia depois do presidente da Câmara e o ministro da Justiça discutirem publicamente

O ex-presidente Michel Temer foi preso pela força-tarefa da Lava Jato, do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (21). E os deputados próximos ao atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), suspeitam de que a operação da PF contra o grupo do ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha (MDB-RJ) seja uma retaliação do ministro da Justiça Sérgio Moro.

A prisão do ex-presidente da República Michel Temer e os mandados de buscas contra seus ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha tiveram como uma de suas bases a delação premiada de Lúcio Funaro, operador financeiro do MDB ligado a Eduardo Cunha (RJ).

O deputado Célio Moura (PT-TO) afirmou que a prisão é uma “vingança” do ministro da Justiça, Sergio Moro: “Isso é uma vingança, o Moreira Franco é sogro do presidente Rodrigo Maia”, disse ele.

As prisões ocorrem um dia depois de Rodrigo Maia o ministro da Justiça discutirem publicamente, após Moro tentar apressar a votação do pacote de segurança que enviou ao Congresso. Maia suspendeu a tramitação para priorizar a votação da reforma da Previdência.

“Eu acho que ele conhece pouco política. Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro funcionário do presidente Bolsonaro. Então o presidente Bolsonaro tem que dialogar comigo. Moro não é presidente da República, não foi eleito para isso.” Rodrigo Maia, (DEM-RJ), presidente da Câmara.

Ele foi além e disse que Moro está “confundindo as bolas” e que copiou o projeto do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O problema é que aliados de Moro e do PSL avaliam que Rodrigo Maia reelegeu-se para o comando da Câmara graças ao apoio do Centrão e do MDB, que antes estavam fechados com Eduardo Cunha.

Esta também a interpretação do Senador Renan Calheiros (MDB-AL), que no Twitter, foi solidário a Maia após a prisão de Temer, e do ex-ministro, Moreira Franco, seu sogro:

Líder da minoria na Câmara, a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) disse que a oposição vê indícios robustos de corrupção, por isso votou pelo afastamento de Temer por duas vezes, mas que a prisão parece “arbitrária e sem o devido processo legal”.

“Continuamos defensores do devido processo legal, a prisão tem que ocorrer só após o processo condenatório”. Jandira Feghali (PC do B-RJ), deputada federal.

Ex-deputado e um dos consultores jurídicos do ex-presidente Lula, o advogado Wadih Damous (PT-RJ) afirmou no Twitter que Temer “é um canalha” e que “não merece compaixão”, mas que não aplaude “medidas arbitrárias por parte do Estado” e que alertou que “um dia as criaturas se voltariam contra os criadores”.

Sem foro

No mesmo diz que Jair Bolsonaro vestiu a faixa presidencial, o procurador regional da República em Brasília Vladimir Aras fez questão de lembrar no Twitter que, o agora ex-presidente, Michel Temer, não tem mais foro especial:

Em fevereiro, foi enviado à primeira instância da Justiça, após decisão dos Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), quatro processos contra o ex-presidente Michel Temer (MDB). Um deles é um inquérito dos portos, sobre responsabilidade do ministro Luís Roberto Barroso.

As outras três denúncias eram relatados por Edson Fachin. Temer foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), junto com outras cinco pessoas, em dezembro, a 12 dias do término do seu mandato, por suspeitas de corrupção para beneficiar empresas do setor portuário.

Duas das denúncias encaminhadas por Fachin foram apresentadas pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot e tiveram tramitação suspensa por decisão da Câmara dos Deputados ainda durante o mandato de Temer.

As denúncias foram apresentadas com base nas delações premiadas da JBS. No primeiro caso, Temer foi denunciado por corrupção passiva, por suspeitas de ser o destinatário final de R$ 500 mil recebidos numa mala pelo ex-assessor e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR).

A segunda denúncia acusa o ex-presidente de ter tentado obstruir a Justiça por meio da compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ). Uma das principais provas no processo foi o áudio de uma conversa com Temer gravada pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS.