Sábado de aleluia, o Considerado se arrumou todo, colocou uma bota no estilo coturno e vestiu um colete à prova de bala por baixo da camisa. O ritmo acelerado do jovem chamou a atenção da vó, dona Nildinha, que, assustada, quis saber o que estava se passando.
Ele tentou embromar e a velha insistiu na informação. Principalmente por que os apetrechos usados sugeriam alguma coisa anormal na vida dele.
“Olha menino você tem que me dizer o que está acontecendo por que estou ficando assustada com essa vestimenta toda”, disse-lhe.
Considerado tentou tranquilizá-la dizendo que estava tudo bem e que não havia bronca nenhuma em sua vida.
Ela não acreditou: -Você não é militar para andar com colete à prova de bala e não me consta que seja um bandido miliciano…
Antes que a conversa fosse mais longe o rapaz contou que estava se preparando para ir a um treinamento em clube de tiro. -Clube de tiro? -Indagou Nildinha, logo acrescentando: -Que maluquice é essa agora?
Considerado percebeu que não sairia de casa sem dar as explicações necessárias. Até por que para praticar no clube teria que pagar pela arma e a munição. Ou seja, sem a ajuda da “vozinha”, nada feito.
-Olhe minha vó é um clube de tiro de uns amigos meus…
-Que amigos são esses, Considerado?
-A minha turma: O Davan Tonelada, o Papada, o Empreiteiro do Bill, o Delega, o Magistrado, o Batoré, o Pastor, o…
-Chega! Já conheço essas peças todas, menos esse Empreiteiro…
-É aquele rapaz que você viu lá na Barra de São Miguel, que tinha uma empreiteira na Bahia.
-Ah, tá gostei dele. Você precisa me apresentá-lo melhor…
-Que coisa feia vó, a senhora uma hora se agarra com Zé Fumacê, outra quer o Coleguinha. A senhora não tem mais idade pra isso.
-Saiba que ainda dou um caldo e muito bem. E esses dois aí que você falou, nem com Viagra do Exército.
Considerado tentou aproveitar o lado emocional da conversa para escapulir. Mas, não conseguiu enganar Nildinha que voltou ao tema principal:
-Olhe aqui menino, você conte logo que presepada é essa de Clube de Tiro.
-A questão vó é que o Tonelada disse que o Gabiru resolveu montar um clube no terreno ao lado do restaurante dele.
-Como assim, ao lado daquele bar que ele chama de restaurante?
-É que foi um pedido do magistrado.
-E sua excelência vai pra guerra da Ucrânia com vocês?
-Não. Mas ele gosta de armas e quer se aperfeiçoar.
-E vão atirar uns nos outros para você usar colete?
-O problema é que o Gabi chamou o delegado para ser o instrutor de tiro e o delega pediu pra gente usar o colete por via das dúvidas. Afinal no primeiro treino deu tudo errado.
-Meu Deus, o que houve? Alguém se feriu?
–Não. O magistrado chamou o amigo dele, o Portuga, para participar na abertura, mas ele disse que já era especialista em mira, desde Angola, e que inclusive havia participado da luta da direita portuguesa contra a revolução dos cravos.
-Sim, mas e daí?
-Como o Portuga não foi, o Excelência chamou o Empreiteiro do Bill e o Fumacê. O do Bill fazendo charme disse que preferia tomar um vinho e o Fumaça chegou tão chapado que o delegado tomou a arma dele.
-Que coisa feia. Zé Fumacê entrou num estado de degradação. Já esse empreiteiro é luxo só. Mas por que deu errado no primeiro dia?
-O Gabiru querendo um novo cardápio no bar colocou uma criação de guinés como alvos do clube.
-Misericórdia, os bichinhos… Coisa ridícula.
-Pois é. O instrutor entregou a arma ao magistrado, mandou apontar, mirar e atirar: Tebei!
-E matou?
-Os guinés saíram em disparada na algazarra: Tô fraco, tô fraco, tô fraco…
-E quem foi que esse atirador ruim matou, Considerado?
-Ele matou foi um pé de mamão que estava há 50 metros dos guinés.