26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Desfile militar de Bolsonaro provoca crise e vergonha no Alto Comando, segundo Oyama

Bolsonaro esteve ao lado apenas de militares, já que nenhum dos presidentes ou representantes de outros poderes compareceram

O comandante do Exército, Paulo Sérgio

O Alto Comando do Exército, segundo Thaís Oyama, do UOL, pressionou o comandante da Força, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, a não atender à convocação do ministro da Defesa Braga Netto para participar da cerimônia de entrega de um convite da Marinha ao presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira.

Para um militar, o não atendimento a convocação de um superior configura ato de indisciplina e, no caso de Paulo Sérgio, a única forma de evitar o cometimento da infração seria pedir demissão do cargo — precisamente o que o Alto Comando queria.

O general Paulo Sérgio, assim como o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, foram convocados por Braga Netto para ladear o presidente Bolsonaro na rampa do Palácio do Planalto no momento em que ele recebesse o convite formal para assistir a Operação Formosa, o maior exercício militar da Marinha no Planalto Central, prevista para acontecer no próximo dia 16 com a participação do Exército e da Aeronáutica pela primeira vez.

A cerimônia de entrega do convite, marcada para o mesmo dia da votação da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados, foi precedida por um desfile de blindados da Marinha na Esplanada dos Ministérios — no que foi considerado uma “pantomima” e uma instrumentalização da Força Naval pelos generais quatro estrelas que compõem a cúpula da Força Terrestre.

O detalhe é que ontem os generais do Alto Comando do Exército expressaram seu desagrado à presença do comandante do Exército num evento que, para eles, escancarava a tentativa presidencial de usar as Forças Armadas em seu benefício político — nesse caso, o desejo de intimidar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Alguns se disseram “envergonhados” e “indignados”.

Paulo Sérgio, como presidente do Alto Comando, estava presente à reunião e ouviu todas as críticas. Nenhum dos presentes citou a palavra “demissão” porque, como afirma um general com interlocução com o Alto Comando, “cardeais não mandam o papa renunciar”.

Ao final da reunião, estava claro que o papa não estava disposto a renunciar. Tanto Paulo Sérgio como o comandante da Aeronáutica e da Marinha perfilaram-se junto ao ministro Braga Netto na cerimônia de hoje de manhã na rampa do Palácio do Planalto.

O general Paulo Sérgio assumiu o comando do Exército em março, depois da crise militar deflagrada pela demissão sumária do ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e que culminou na saída em bloco dos três comandantes das Forças.

Desfile vazio

O presidente Jair Bolsonaro  acompanhou hoje, ao lado dos chefes militares, a passagem de tanques pelo Palácio do Planalto, em Brasília. As imagens foram exibidas em uma live transmitida pelo Facebook de Bolsonaro e durou menos de 9 minutos.

Ontem, Bolsonaro usou as redes sociais para convidar autoridades para o desfile. Nenhuma compareceu. Entre eles estavam o presidente do STF, ministro Luiz Fux, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Mesmo que não nominalmente, o chefe do Executivo estendeu o convite aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), do TCU (Tribunal de Contas da União), ministra Ana Arraes, do STJ, ministro Humberto Martins, e do TST (Tribunal Superior do Trabalho), ministra Maria Cristina Peduzzi. Também convidou deputados e senadores, dizendo que se “honraria” com a presença de cada um deles.

Em vez deles, estavam ao lado do chefe do Executivo, na porta do Palácio, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os chefes militares da Aeronáutica (Carlos de Almeida Baptista Júnior), Exército (Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira) e Marinha (Almir Garnier Santos). O presidente acenou durante a passagem do comboio, enquanto seguidores gritavam ao fundo.