13 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

‘Eu que indico’: Bolsonaro minimiza poder de Moro na PF

Demissão do Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, responsável pela investigação de Flávio Bolsonaro, ainda repercute

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) reafirmou hoje (22) que o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, é subordinado a ele, e não ao ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro.

Não só isso, como Bolsonaro não descartou a possibilidade de eventualmente trocar o chefe da PF. A Polícia Federal fica dentro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, chefiado por Moro.

“Se eu trocar (o diretor-geral da PF) hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico e não o Sergio Moro. E ponto final. Valeixo é subordinado a mim, não ao ministro. Deixo bem claro isso aí. Eu é que indico. Está bem claro na lei”. Jair Bolsonaro, presidente.

Quanto à uma eventual intenção de trocar o chefe da PF, o presidente respondeu que, se o fizer, será “na hora certa”, afirmando que “tudo pode acontecer na política”. Ontem, o presidente afirmou ser um mandatário que pode “interferir mesmo” em alguns órgãos federais se for preciso e hoje, reforçou seu posicionamento.

“Quero que se combata a corrupção, que façam as coisas da melhor maneira possível. Eu não estou acusando ninguém de fazer nada errado. Mas a indicação é minha. Por isso elegeram o presidente da República. Se não pudesse ter ingerência, interferência – para mim é mudança -, seria mantido o anterior, o cara que foi nomeado antes iria ficar até morrer”. Bolsonaro.

Incômodo no PSL

Até mesmo dentro do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, encontra repercussões negativas nas interferências do chefe do Executivo em órgãos como Receita, Coaf e Polícia Federal. Além disso, a relutância de Bolsonaro em definir o que vai fazer com o projeto que pune o abuso de autoridade é mais um fator para incomodar seus aliados.

O caso da demissão do Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, denota exatamente como as coisas estão funcionando na órbita do poder: a necessidade que tem o presidente da República Jair Bolsonaro e seus ministros de perseguir quem pensa em política de Estado e não apenas de governo.

Saadi foi quem autorizou a investigação do Caso Queiroz, pela Federal, após a operação abafa protagonizada pela polícia civil carioca, em grande parte comprometida com as ações criminosas dos milicianos, cujos líderes e a maioria dos integrantes são militares e ex-militares que atuam no crime organizado do Rio de Janeiro.

O caso Queiroz é emblemático para Bolsonaro por que envolve diretamente o filho dele, o senador Flávio Bolsonaro, acusado de ter usado uma rede de “laranjas” para desviar recursos da Assembleia Legislativa do Estado de lá. O operador do esquema era o amigo pessoal do próprio Jair Bolsonaro, Fabrício Queiroz.

Uma vez flagrado o esquema de corrupção envolvendo o filho do presidente e até a primeira dama Michelle Bolsonaro, que recebeu R$ 24 mil das mãos  de Queiroz (dinheiro oriundo dos cofres do Legislativo carioca), a primeira medida tomada pela família presidencial foi dar sumiço a Queiroz, para que este não tivesse que depor no Ministério Público.

Por tudo isso, o superintende da PF no Rio não foi perdoado. Bolsonaro disse que quem manda é ele. Pelo jeito até nas investigações da PF, que antes era uma instituição com autonomia. Talvez, em nome disso alguns delegados, contra a ingerência indevida, estão ameaçando pedir demissão.