26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Mais de um ano e 300 mil mortes depois, Bolsonaro anuncia comitê anticovid

Presidente tentar minimizar conflitos entre ele, governadores e congressistas, no Palácio da Alvorada

Um dia após realizar seu primeiro pronunciamento “sensato e objetivo” nesta pandemia (influenciado por uma carta de 500 empresários culpando o governo federal pela crise no Brasil) e passado um ano da explosão da pandemia do coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro anunciou, nesta quarta, a criação de um comitê com autoridades para discutir medidas contra a crise sanitária.

A declaração foi dada após reunião convocada sob pressão para discutir ações contra a pandemia e tentar minimizar conflitos entre ele, governadores e congressistas, no Palácio da Alvorada, em Brasília.

“Resolvemos, entre outras coisas, que será criada uma coordenação junto aos governadores com o senhor presidente do Senado Federal. Da nossa parte, um comitê que se reunirá toda semana com autoridades para decidirmos ou redirecionarmos o rumo do combate ao coronavírus”. Jair Bolsonaro, presidente.

Bolsonaro se reuniu nesta manhã com os presidentes dos demais poderes: o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco; e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux.

Na reunião também estariam com governadores que decretaram em seus estados medidas restritivas, como o toque de recolher. Isso menos de 24 horas depois de ter perdido, no STF, um pedido para proibir decretos estaduais que incluam toque de recolher.

Embora no grupo que foi ao Palácio do Planalto estejam nomes mais próximos do presidente, o consenso é o de que eles vão pedir coisas que por um ano Bolsonaro lutou contra, como demandas por uma série de medidas mais restritivas em todo o país.

Pesou no bolso

Tendo desperdiçado um ano teimando contra a ciência e ajudando a matar centenas de milhares de brasileiros, afinal, ele sabotou medidas de contenção ao novo coronavírus, fazendo descaso de distanciamento social, uso de máscaras ou mesmo de vacinação, Bolsonaro agora precisa lutar contra suas convicções: como sentiu no bolso, precisa focar na saúde.

O documento “O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo – Carta Aberta à Sociedade Referente a Medidas de Combate à Pandemia”, assinado por grandes empresários brasileiros, aponta uma série de impactos econômicos e sociais atribuídos à pandemia e à demora na imunização.

Nos bastidores, aliados do presidente Jair Bolsonaro tentam convencê-lo de que é necessário adotar um “tom moderado” no discurso sobre as medidas de restrição impostas pelos governos estaduais.

Coincidência ou não, o presidente correu para agradar o setor que mais lhe importa e o ajudaria em uma reeleição, e resolveu (ao menos no pronunciamento) discursar de forma coerente contra a crise da covid-19. Até mesmo a posse do novo ministro da Saúde aconteceu de forma relâmpago.