A eleições gerais na Alemanha, vencidas pelo Partido Social-Democrata (SPD), marcaram o melhor resultado do partido Os Verdes, segundo as projeções, colocando a legenda ambientalista como terceira força no Parlamento.
Com isso, a votação marca o fortalecimento da sigla, que deve ser decisiva nas negociações para um novo governo e vê a extrema direita perder espaço no Parlamento – dois as aspectos que são um mal sinal para o presidente Jair Bolsonaro, tido como símbolo de desmatamento e aliado declarado de neonazistas alemães.
Leia mais: Bolsonaro recebeu de braços abertos a neonazista Beatrix von Storch, neta de ministro de Hitler
Eduardo Bolsonaro tem relapso nazista no Facebook e perfil é suspenso por 30 dias
Bolsonaro agradeceu em carta apoio recebido por neonazistas
E os aliados de Bolsonaro tiveram um resultado pior do que o esperado. O partido, que está sendo monitorado pelos serviços de inteligência por suspeitas de apoiar ataques contra a democracia, ficou com pouco mais de 10% dos votos e deve perder 11 lugares no Parlamento.
Geschichte wird in Mitte geschrieben.
Mehr gibt es heute nicht zu sagen. #btw2021 @HanSteinmueller @gruenemitte pic.twitter.com/ZemFcCLk3p— Tobias Oertel (@ninja_toertel) September 26, 2021
Como não há sistema de voto eletrônico, a contagem ainda não está fechada, mas mesmo que a indefinição tenha tomado conta do país europeu, diante da fragmentação do voto a formação de um novo governo terá de passar por uma negociação com o partido ecologista Die Grünen (Os Verdes).
Pelas projeções, os verdes receberam 14,6% dos votos, ficando à frente dos liberais do Partido Democrático Liberal (FDP) e da Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita. Apesar de marcar um avanço em relação a eleições passadas e confirmar o papel do meio ambiente na discussão política na Alemanha, o resultado ficou aquém do esperado.
Ainda assim, Hanna Steinmüller, do Die Grünen, venceu exatamente Beatrix von Storch, do AfD, a extremista alemã, neta de um ministro de Hitler e que foi recebida por um sorridente presidente Jair Bolsonaro e outros membros do governo, às escondidas em Brasília.
Verdes contra Bolsonaro
Os Verdes vão somar 51 novos assentos no Parlamento e obter um total de 118 deputados e já deixaram claro que um acordo comercial com o Brasil está fora de qualquer cenário diante da política ambiental de Bolsonaro.
Leia mais: Neonazistas, negacionistas, propineiros, milicianos: O Brasil ainda tem jeito?
Ainda em 2019, o grupo denunciou as intenções do presidente brasileiro e, em 2020, tomaram a iniciativa de sugerir a interrupção de qualquer consideração de uma ratificação dos tratados com o Brasil. Negociado por 20 anos, o acordo comercial entre Mercosul e UE foi concluído em 2019. Mas precisa passar por ratificações nos parlamentos de todos os países para entrar em vigor.
Para justificar o veto, o partido citou “a situação dos direitos humanos no Brasil e a destruição da floresta tropical que se deterioraram catastroficamente desde que o Presidente Jair Bolsonaro tomou posse”.
Vencedores venceram Lula na prisão
Se confirmado o resultado, o partido Social-Democrata (SPD) irá obter sua primeira vitória em uma eleição nacional desde 2005, enquanto os rivais da CDU, de direita, atingem sua marca mais baixa na história da Alemanha pós-guerra. No Parlamento Europeu, o grupo é um dos mais fortes críticos ao presidente brasileiro.
O ex-líder do SPD, candidato a chanceler e presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, chegou a visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão, em Curitiba. Em 2013, Lula foi um dos principais oradores da festa dos 150 anos do SPD. Helmut Schmidt, ex-chanceler alemão e do SPD, desafiou o regime militar brasileiro e pediu para se encontrar com então líder sindical Lula, numa viagem oficial.
Neonazistas
Beatrix von Storch, vice-líder do partido “Alternative für Deutschland” (AfD), publicou em sua foto no Instagram a foto ao lado do presidente brasileiro em 26 de julho:
Ela disse:
“Um encontro impressionante no Brasil: agradeço ao presidente brasileiro por sua recepção amigável e estou impressionado com sua clara compreensão dos problemas na Europa e dos desafios políticos do nosso tempo. Em um momento em que a esquerda está avançando sua ideologia através de suas redes e organizações internacionais em escala global, nós conservadores também precisamos nos conectar mais de perto e a nível internacional. Além dos EUA e da Rússia, o Brasil é um parceiro estratégico global com quem queremos moldar o futuro juntos”. Beatrix von Storch.
O governo alemão já considera o AfD de Beatrix como uma possível ameaça extremista no país, tanto que a chanceler Angela Merkel colocou o serviço secreto alemão a investigar uma ala do partido e seus membros.
Partido de extrema-direita fundado em 2013, o Museu do Holocausto afirma que a iniciativa tem tendências “racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração.”
Na semana anterior, quando alertada pelos tons nazistas de Von Storch e seus partidários, Bia Kicis, presidente da CCJ e que também recebeu a neonazista, disse que pesquisou a fundo o passado da alemã e não encontrou nada de errado.
Leia mais: Bia Kicis não quer que oposição chame Bolsonaro de genocida
Pelo contrário: tudo não passaria da “narrativa contra conservadores”. Aparentemente, nem mesmo alemães conseguiriam reconhecer um nazista, segundo Kicis.
O avô de Beatrix von Storch é Lutz Graf Schwerin von Krosigk, que ministro das Finanças na Alemanha Nazista. Ele serviu continuamente ao “Terceiro Reich”, desde a nomeação de Hitler como chanceler até o fim da Segunda Guerra Mundial.