17 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro agradeceu em carta apoio recebido por neonazistas

Maior autoridade em neonazismo do Brasil, antropóloga Adriana Dias encontrou carta e banner do atual presidente em fóruns já desativados

O presidente Jair Bolsonaro propaga o discurso do ódio. Como parte para ofensas contra mulheres, negros, homossexuais, índigenas, estrangeiros e diversas minorias, além de ser um negacionista que incentiva posse de arma da população e militarização do governo, eventualmente, as comparações com o nazismo se tornaram lugar comum.

Imagem de Bolsonaro fardado no site Econac em 2004, além de um banner para seu site, o único político mencionado no site neonazista Imagem: Reprodução/Web Archive

Infelizmente, associar o bolsonarismo com o nazismo (ou neonazismo) está deixando de ser um exagero.

A antropóloga Adriana Dias é uma das maiores autoridades em neonazismo no Brasil. Ela caçava sites e fóruns neonazistas para derrubá-los. Além de estudar o discurso de seus participantes, antes de fazer a denúncia e provocar seus fechamentos, ela antes catalogava tudo e salvava em um arquivo pessoal.

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Foi quando ela encontrou uma carta, datada de 2004, com o então deputado estadual Jair Bolsonaro, à época do PFL, agradecendo o poio que recebia dos neonazistas do Econac. O que ele dizia ser um “estímulo” para continuar trabalhando.

Carta assinada por Jair Bolsonaro, em 2004, publicada pelo site neonazista Econac. Imagem: Reprodução/Web Archive

O material é uma prova irrefutável do apoio de neonazistas brasileiros a Bolsonaro quando o hoje presidente da República era apenas um barulhento e improdutivo deputado. A base bolsonarista é, há quase duas décadas, composta por neonazistas.

Isso tudo foi divulgado pelo The Intercept, que não conseguiu descobrir se Bolsonaro enviou a carta, via gabinete em Brasília, apenas para as pessoas que administravam os sites neonazistas. Mas vale constar: esta mensagem não foi publicada em nenhum outro lugar.

Jair Bolsonaro já elogiou as qualidades de Hitler, já tirou foto com sósia de Hitler, já disse que o holocausto poderia ser perdoado. Seu ex-secretário especial da Cultura reproduziu, no início de 2020, em discurso, falas, ambientação e postura, um vídeo copiando o político nazista Joseph Goebbels. Seu assessor especial, Filipe Martins, é réu por fazer um gesto de white power em uma sessão do Senado.

Na semana passada, Bolsonaro e vários membros de seu governo receberam sorridentes a deputada alemã Beatrix von Storch, do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), neta do ministro das Finanças de Hitler, o homem que liderou o confiscos dos bens dos judeus enviados para os campos de concentração e extermínio durante a ditadura do Partido Nazista.

Apesar disso tudo, o presidente e seu entorno tenta afastar as impressões. O hoje indicado ao STF, André Mendonça, quando ministro da Justiça, pediu abertura de inquérito na PF contra quem associava Bolsonaro ao nazismo.

Mas se antes, até mesmo com pequenas indiretas, como a Secom do govero reproduzindo lemas nazistas, já era difícil tapar o sol com a peneira, o que dirá agora Artur Lira, que tem a gaveta cheia de pedidos de impeachment, ou o Ministério Público Federal?