19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Pária mundial, Bolsonaro destrói imagem do Brasil aos olhos do mundo

Destruidor da Amazônia, mentiroso compulsório, negacionista que come na sarjeta: as vésperas do discurso do presidente na ONU

Em passagem por Nova York, o presidente Jair Bolsonaro está fora de seu curral eleitoral, sem a admiração cega e incondicional de seus fãs, sentindo de perto um pouco do que a maioria do povo brasileiro sente por ele: desprezo, asco, raiva e indignação. Isso é o de menos: a questão é mesmo a deteriorada e péssima imagem do Brasil aos olhos do mundo, por causa de seu líder negacionista.

Bolsonaro está nos EUA para abrir a Assembleia-Geral do ONU. Historicamente, é o Brasil o primeiro a discursar no evento, que neste ano realiza o seu 76º. Não é nenhum privilégio ou respeito por Bolsonaro: é simplesmente por ele estar presidente do Brasil. E em seu terceiro discurso desde que se tornou mandatário, Bolsonaro nunca teve a imagem tão rachada aos olhos do mundo quanto agora.

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Enquanto por aqui ele é a cara da crise, desemprego e morte, lá fora ele ainda é ilustrado como responsável pela destruição da Amazônia – justo, pois as pessoas inicialmente lutam por aquilo que as afeta, como o aquecimento global e destruição do planeta. Além de incendiário, Bolsonaro também é um negacionista da pandemia, tema também de apelo mundial. E sem Trump em sua alçada, ele rachou mais ainda.

Com orgulho e sempre um sorriso safado e irônico, Bolsonaro faz pouco caso quando o assunto é sua vacinação. Com o mantra de ser “o último brasileiro a ser vacinado”, o presidente jura que nenhuma seringa chegou perto de seu braço. Isso apesar de impor um sigilo de um século em seu cartão de vacinação.

Das duas uma: ou ele é realmente um teimoso idiota que fechou os olhos para todas as evidências e de maneira danosa influencia seus seguidores, ou está tão preso em sua mentira que, com medo de morrer, deve ter se vacinado tantas vezes que até já ocultou seu cartão de vacinação para não se justificar aos ludibriados que resolveram ouvir cair em sua ladainha e também não se vacinarem.

E como não está vacinado, Bolsonaro e sua comitiva teve que comer na sarjeta. Barrado em restaurantes, o presidente do Brasil ainda fez questão de divulgar o registro deles começando na calçada. Na mesma noite que entrou pela porta dos fundos do hotel por causa das manifestações contrárias.

Aos seus seguidores, tentou passar uma imagem de coragem ao andar pelas ruas (escoltado pelo Serviço Secreto), enquanto o prefeito de Nova York praticamente o mandou embora por não ser vacinado. Ainda tem o diplomata brasileiro que organizou a comitiva ter testado positivo, entrado em contato com pelo menos 30 pessoas e Bolsonaro abusar de sua imunidade diplomática para discursar sem vacina.

E tem o discurso

Os próprios membros do governo ventilaram que Bolsonaro discursa na abertura da 76ª Assembleia-Geral da ONU com o desafio de melhorar a imagem do país e se aproximar dos EUA. Isso tudo sem se afastar de sua base ideológica e manter seu gado gritando “mito” de forma descerebrada.

Entre os anúncios, estão um projeto de doação de vacinas contra a Covid a países mais pobres da América Latina e do Caribe, como Paraguai e Haiti. Tudo para destacar o avanço da imunização no Brasil (não graças a ele) e uma busca de ajuda aos vizinhos.

Vale lembrar, a fala do presidente ainda estava sendo editada, para juntar propostas enviadas pelo Itamaraty, pela missão do Brasil na ONU e por integrantes do Palácio do Planalto. A expectativa era a de que a versão final fosse fechada apenas em cima da hora.

Seu discurso, portanto, deve funcionar como um ensaio do que ele pretende mostrar ao completar os 1.000 dias de governo, marca que alcançará no fim de setembro e que tem mobilizado alta expectativa na gestão. O maior complicador é mesmo sua relação diplomática com os EUA e a queima da Amazônia – ele pode até enganar por aqui com mentiras, mas não lá fora.

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E tentando conciliar todos os lados, ele pode acabar se queimando, já que são esperadas citações a temas como o marco temporal (que limita a possibilidade de demarcação de terras indígenas àquelas ocupadas por eles em 1988), à liberdade de expressão da direita em redes sociais e a valores cristãos e conservadores.

Para o Itamaraty, que preferia que Bolsonaro evitasse menções a temas controversos, tal qual sua fala mansa na 13ª cúpula dos Brics, quando chamou a China de parceria “essencial”, a expectativa é que a agenda positiva repercute de forma negativa de aspectos mais ideológicos da apresentação.

No Itamaraty, a percepção é que o presidente “já surpreendeu positivamente em abril”, na Cúpula do Clima promovida pelo presidente americano, Joe Biden, e portanto a expectativa agora seria “positiva”.

Ele deve também destacar que o Brasil é o país em desenvolvimento com metas mais ambiciosas, tanto no combate ao desmatamento (zerar até 2030) quanto à emissão de gases do efeito estufa (neutralidade até 2050) e relembrar que o Brasil detém mais de 80% de sua matriz energética de fonte limpa

De qualquer forma, independente de tudo o que estiver presente em seu discurso, está mantido o que foi escrito aqui após a estreia de Bolsonaro: poderia ter sido pior e ao menos que ele não fale de cocô na ONU, como fala por aqui.