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Poderia ter sido pior. Com discurso voltado para o ataque e sem nenhum tipo de recuo, isso sim comum em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro fez um discurso polêmico na 74ª Assembleia Geral da ONU.
Com convicções questionáveis, dados distorcidos e, como esperado, com mentiras mesmo, o presidente jogou para seu eleitorado e novamente lambeu as botas de Trump. Bolsonaro, aliás, esperou por uma hora em um corredor para conseguir um aperto de mão do presidente americano, alvo de impeachment nos EUA.
Esperava-se do brasileiro, em seu discurso, que ele atingisse no tocante da Amazônia, claramente devastada e incendiada como mostram dados do Inpe e até imagens de satélite da NASA.
Ele fez não só isso, como foi além.
O presidente teve a audácia de dizer que a Amazônia não é um patrimônio mundial (não se discute a propriedade brasileira, mas nem o patrimônio da maior floresta do mundo se divide?) e ainda negou a devastação da mesma.
Ele fez comparações com o tamanho das florestas de países europeus. Comparação injusta, já que muitos destes reflorestaram seus territórios, enquanto que nós apenas os destruímos.
Além de reforçar que o cacique Raoni, é usado como peça de manobra e que há uma grande conspiração midiática contra ele o Brasil, Bolsonaro não assumiu nenhum erro sequer.
Ele reforçou ainda que foi esfaqueado por um ‘militante de esquerda’, ressaltou o ‘patriotismo’ do seu atual ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro e citou novamente passagem na bíblia, revelando que apenas a verdade é capaz de libertar.
Irônico, pois tal qual o infame senador Joseph McCarthy (1947-1957), adotou do Marcathismo e segue temendo uma ameaça vermelha. Foi até mesmo capaz de dizer que tirou de Havana os R$ 300 milhões que o Brasil pagava pelos médicos Cubanos. Claro, ele deixou de dizer que milhares de famílias estão sem atendimento médico em afastadas cidades brasileiras.
Mas podia ser pior.
Ele podia ter enfatizado que escreveu o discurso com uma caneta Compact, e não a francesa Bic.
Que a mamata acabou, mas que um filho tem contatos tão fortes com um laranja e teve um aumento financeiro tão suspeito que foi preciso acabar com o Coaf pra não prender o garoto.
Outro filho, que sabe fazer hambúrguer, podia ter sido elogiado por merecer o filé e morar nos Estados Unidos como diplomata. E que para garantir a vaga desse, já está em um crescente toma lá, dá cá com senadores.
Também poderia falar do outro filho que cuida de suas redes sociais, mas aí nesse assunto duraria horas.
Provavelmente, ao perguntar o que é golden shower ou descrever dois homens se urinando na rua seria retirado do palco por indecência. Curiosamente, o presidente já chegou a falar ‘burn the doughnut’ para se referir a ‘queimar rosquinha’.
Menos mal que ele não falou de seus vizinhos milicianos, com mais de 100 fuzis em casa e que são suspeitos do assassinato de uma vereadora no Rio.
E apesar do lamentável número de PMs mortos no Brasil, ainda bem que ele não falou de seu desejo de uma guerra civil em que morram 30 mil. Guerra que talvez já passemos por, então teria sido melhor ele não ter falado mesmo da menina fuzilada no Rio e negado seu assassinato. Como negou após o exército metralhar o carro de uma família no início do ano.
Sobre economia, o congelamento do salário mínimo, piora na previdência, enfraquecimento de leis trabalhistas e outros temas delicados, aos olhos estrangeiros, nos trariam muito mais vergonha.
Por sorte, ele também não falou dos gastos de mais de um milhão por mês com seu cartão de créditos presidencial. Ainda bem que estes gastos são considerados segredo e não podem ser divulgados.
Mais abertos, estão os cortes na Educação. Para comprar votos no Congresso, ele negociou emendas ao custo bilionário de verbas nas faculdades. Um doce que ele, literalmente, comeu quando disse que devolveria esses valores, chamados apenas de ‘contingenciamento’.
Evidente também estão ministros como o das Relações Exteriores que despreza Europa e joga todas as suas carta nos EUA, ou do Meio Ambiente que trabalha mais a favor dos agricultores, a da Agricultura conhecida por Madame Veneno, a da Família que dá nomes e cores à homofobia e defende que estupradas não abortem, ou o do Turismo que está pra lá de envolvido com laranjas e muita corrupção.
Por sorte, a corrupção acabou pois a ideologia de esquerda não está mais presente… Não é mesmo, senhor presidente?
Seria muito contraditório ele ter mencionado alguns destes nomes e dados. Por sorte, ele também não defendeu por lá o fim cadeirinha infantil, que estrangeiros explorem sexualmente nossas mulheres ou que sabe com detalhes como morreram ativistas durante a ditadura.
Defensor da democracia, ainda bem que não falou, novamente, sobre Pinochet ou os anos de chumbo no Brasil. Também não listou quais mulheres na ONU não merecem ser estupradas. Ou as mamadeiras de piroca. Ou que seu mentor Olavo de Carvalho afirma que Pepsi é feita com fetos abortados e que a Terra é Plana.
Voltando mais atrás no tempo, poderia dizer que seria capaz de explodir bombas no quartel, mas só umas espoletas de TNT, pois não machucaria ninguém, para provar seu ponto de vista. Que planejar atentados com bombas relógio não faria dele um hipócrita, mas sim um patriota! Pelo menos ele foi inocentado no Superior Tribunal Militar, embora a Polícia Federal não tenha concordado.
Milionário, votou contra o fim do nepotismo, quando deputado, já que precisamos pensar nas amantes. Também poderia ter dito que foi coerente e votou pra aumentar salário de deputados e senadores. E mesmo recebendo auxílio moradia de R$ 4.253 apesar de ter apartamento, estaria usando a grana para, solteiro na época, comer gente.
Não precisaria nem ir muito longe. Mais recentemente, poderia mencionar com orgulho sua sugestão para melhorar o meio ambiente: fazer cocô dia sim, dia não.
Poderia ter sido muto pior. Bolsonaro foi até moderado. Na ONU, usou justamente o dia de fazer cocô quando falou. Mas poderia ter sido muito pior.