26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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A irracionalidade da violência contra a mulher

Por Wagner Melo, jornalista

Maisa Varjão do Nascimento Fernandes foi covardemente assassinada com um tiro na cabeça pelo ex-marido, Gerciano Fernandes de Souza, em setembro de 2017. A tosquice foi cometida na frente do filho do casal, que na época tinha 2 anos de idade. O motivo? Ela descobriu uma traição do cidadão e pediu o divórcio.

Na quarta-feira, finalmente, saiu a sentença: após quase oito horas de julgamento, o Tribunal do Júri da Comarca de Delmiro Gouveia o condenou a 22 anos e seis meses de prisão, a ser cumprida em regime inicialmente fechado.

A condenação acontece na semana em que se completa 12 anos da Lei Maria da Penha. Digo que completa, porque não se comemora. As denúncias de agressões e crimes contra as mulheres somente vem aumentando e ganhando “legitimidade” graças a uma corrente de “pensamento” que julga qualquer combate às nossas chagas sociais como coisa de “esquerdopata”.

O candidato preferido dessa gente negou, em rede nacional, a necessidade de legislação específica para inibir os crimes contra a mulher. Mulheres, pela modinha de rejeição ao que chamam de “feminazis esquerdistas”, aplaudem o descalabro. Fecham os olhos para o machismo, para sensação de propriedade sobre a mulher que está por trás da violência contra elas. É aquela coisa do “se ela não for minha, não será de mais ninguém”.

Elas deveriam ser coerentes, abrir mão de trabalhar fora de casa, de dirigir o próprio veículo e até de votar.

No mundo real, enquanto se nega o machismo e se defende o retrocesso em rede nacional, somente este ano, o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AJ), por meio do 4º Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Maceió, julgou mais de duas mil ações pela Lei Maria da Penha. Em mais de 300, foram concedidas medidas protetivas para resguardar a segurança da vítima durante o andamento dos processos.

Mesma proteção que não teve a advogada Tatiane Spitzner, de 29 anos, do Estado do Paraná. Ela foi agredida e morta pelo marido, Luis Felipe Manvailer, de 32 anos. O crime aconteceu no último dia 22 de julho, no município de Guarapuava e ganhou ares dramáticos por ter sido filmado do começo ao fim.

Para meu choque, já vi textão no Facebook negando o machismo e defendendo todas as pessoas que se omitiram neste caso, dos porteiros aos vizinhos que viram ou ouviram toda a briga. Na cabeça dessa gente, a verdadeira culpada pelo crime já está morta.

Desanima, mas não devemos perder a esperança de que, ao final das contas, o bem vencerá.