26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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A moral, os bons costumes e um país que afunda na lama

Por Wagner Melo, jornalista

Sentei em frente ao computador para ver o noticiário. Estava lá: “Número de inadimplentes chega a 61,8 milhões e bate recorde, diz Serasa”. O motivo é que o poder de compra caiu e a economia não decola. O desemprego ainda é alto.

O sarampo está de volta, com surtos aqui e acolá. Tem ainda uma manchete que anuncia: “PF indicia 12 pessoas por superfaturamento de mais de R$ 600 milhões em obras Rodoanel”. Estranhamente, o partido dos bandidos que roubaram centenas de milhões dos cofres públicos mal é citado. Aliás, parecem intocáveis.

E antes que eu esqueça: a extrema pobreza está voltando a níveis registrados há 12 anos. O Brasil está regredindo, piorando em muita coisa. Os cortes e medidas mais duras só alcançam os mais pobres, nada de discussão sobre privilégios. Por exemplo, o auxílio-moradia para servidores com salários altíssimos, mesmo que estes não precisem usá-lo, já nos arrancou R$ 1 bilhão.

Enquanto isso, nas redes sociais, dá para entender (nunca aceitar) o motivo de o país estar dançando um eterno “moonwalker”, passo eternizado pelo talentoso Michael Jackson.

Os esforços para combater ou até mesmo mobilizar a sociedade na direção dos graves problemas nacionais são ofuscados pelos principais debates das “pessoas de bem”. O mais caloroso é o direito de crianças empunharem armas de brinquedo. Isso é muito adulto.

Fora que, no afã de desconstruir a esquerda, setores porcos a associam a perversões sexuais. Para as mentes doentias, crianças que não pegam em armas, automaticamente, estão tocando em pênis alheios. Que horror!

O moralismo barato e falácias das mais rasteiras dominam o cenário político. Não somos obrigados a aguentar homens no 2º ou 3º relacionamento dizendo defender o “casamento instituído por Deus”, quando este é indissolúvel. Aliás, só acaba em caso de morte ou chifre, mas nenhum deles se assume corno ou adúltero.

Enquanto isso, a fome, a pobreza e as injustiças sociais ganham força. Por isso, não é estranho que os investimentos em educação de qualidade estejam congelados por 20 anos. E que qualquer modelo educacional que desperte o senso crítico nos alunos seja visto como “doutrinação comunista”.