25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Aliança de Moro com Huck evidencia oposição perdida e sobrevida de Bolsonaro

Sem uma reforma política ou um candidato decente na oposição, seja qual for o espectro ideológico, tendência é que nada mude

Ainda é cedo. O democrata Joe Biden mal acabou de ser considerado vencedor das eleições para presidente dos Estados Unidos e o republicano Donald Trump nem mesmo admitiu sua derrota ainda. Mas nas redes, já é dada como certo que o destino do presidente do Brasil em 2022, Jair Bolsonaro, seria o mesmo: derrota nas runas. Mas ainda é cedo.

Confusa e arrastada com regras que invejariam o Campeonato Carioca, a eleição americana possui um diferencial inexistente no Brasil: lá essencialmente há apenas dois candidatos e a eleição é basicamente um grande segundo turno, com os eleitores tendo apenas duas opções: a direita republicana e a “esquerda” democrata. Já o Brasil? O Brasil é uma zona.

Partidos demais

A existência de apenas dois partidos não é exatamente um modelo democrático ideal, mas diante dos 33 partidos inscritos nas eleições deste ano, os brasileiros se encontram presos em um cenário difícil de mudar.

Dentre os partidos, há aqueles maiores, de lados opostos no espectro político, mais os partidos nanicos, que como sempre formam um bloco que faz de refém o governo no Legislativo – o centrão.

Ou o Executivo encontra um ministério, um cargo de confiança e emendas para cada um destes nanicos, ou pode esperar votações emperradas e inúmeras ameaças (e conquistas) de impeachment.

Há ainda uma terceira opção óbvia: reforma política. Precisamos de menos partidos, menores salários para deputados e vereadores, menor verba de gabinete, menor auxílio combustível, terno, viagem e moradia. Fora que é um absurdo os Brasileiros precisarem financiar as campanhas destas figuras, com bilhões perdidos a cada dois anos.

O mais triste? Há ainda quem tenha coragem de sair na rua para vestir a camisa de uma pessoa que, estatisticamente e diante de todas as evidências, tem chances imensas de ser incompetente, mentirosa e altamente corrupta. O eleitor não só bota a mão no fogo por quem acha conhecer, como tem um fetish estranho em ser internado na ala de queimados.

Nada muda

A história recente da política nacional é bem conhecida e apesar das versões diferentes entre vencedores e perdedores, historiadores e conspiracionistas, o que temos sempre são pleitos que dividem a nação na base da raiva. O racha não fica só entre os candidatos, mas entre seus eleitores mesmo. Amizades são encerradas, famílias são desunidas. E tudo só tende a piorar.

Egocêntrico, sem articulação, com sinais claros de demência. Falido 16 vezes, com negócios escusos na Rússia e China. Mentiroso e incompetente diante da maior pandemia dos últimos anos. Trump foi não só o presidente da história dos EUA, como com certeza o pior ser humano a chefiar a Casa Branca. E ainda assim, ele teve mais de 70 milhões de votos nesta eleição.

Praticamente o mesmo pode ser dito de Bolsonaro. Menos, claro, que tenha falido 16 vezes. Militar reformado, categoria essa que nunca é afetada em reformas econômicas, e macaco velho da política desde 1991, mamando nas tetas e adquirindo todas as garantias que tem direito (isso se não fizer que nem um de seus filhos e pegar o salário de fantasmas, como a Val do Açaí), ele nunca conseguiria falir.

Mas é um egocêntrico sem articulação. E um mentiroso e incompetente diante da maior pandemia dos últimos anos. Diante de uma pandemia com um vírus contagioso, ter um presidente que fala “máscara é coisa de viado” já deveria ser o suficiente para ser tirado de onde está.

O detalhe é que para um desses cair, não é nem preciso um nome descente. Na verdade, basta apenas um nome decente. Se nos EUA além de Biden estivessem concorrendo mais dois ou três nomes relevantes, Trump seria reeleito. E é o que acontece aqui.

Mesmo diante de todos casos de corrupção no governo e no núcleo familiar, queimadas no meio ambiente e relações diplomáticas mundiais, uso da religião e valores familiares para promoção de todo tipo de violência, mais todas as claras e evidentes mentiras que conta praticamente todo dia, ele ainda tem seu apoio. Ainda tem seu curral. Ainda tem seu voto de peso.

Foto: Ricardo Moraes

Em 2018, uma eleição que por si só valeria um filme, entre seus oponentes teve além do insosso Geraldo Alckmin (o corrupto da vez do PSDB), o mais queimado dos partidos, o PT, inventou de fazer uma campanha mais sobre Lula do que o Brasil. E diante da enigmática Marina Silva, que só aparece a cada quatro anos, e do destemperado Ciro Gomes, não é a toa que Bolsonaro foi eleito.

E para 2022, o cenário pode ser o mesmo. Trocando, claro, o nome do PSDB. Quem inventou de atacar de frente Bolsonaro, perdeu politicamente. Wilson Witzel acabou. Moro deve até hoje se arrepender de ter largado a toga. E João Doria é mais um que sofrerá os ataques da turma do mito. Doria, aliás, mais um nome insosso a ocupar a cadeira do PSDB.

Ciro Gomes e Lula fizeram as pazes, para tentar impedir divisão de votos na esquerda. Mas se esqueceram o quão tóxico se tornou Lula na política, que precisa para ontem sumir. Marina, que nunca foi ao segundo turno, é outra que de certeza dará as caras. E para tentar quebrar os votos de Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro já se reúne até com Luciano Huck para uma chapa.

Bolsonaro não precisaria nem tentar continuar se sabotando. Nem mesmo um novo atentado a faca provocaria um cenário tão favorável. Quem continua chamando ele de mito, fará o mesmo até a morte. É preciso apenas um candidato de oposição relevante, apenas um, no meio da desgrama de mais de 30 partidos, pode perfeitamente repetir seus quase 60 milhões de votos.

Com, ou sem Trump, Bolsonaro ainda segue na frente. Mas não é preciso muito para acabar com isso. Basta um nome. Só um nome.