27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bachelet denuncia na ONU desmatamento na Amazônia

Chilena não recuou diante de ataques de Bolsonaro

Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para Direitos Humanos, denunciou novamente a situação no Brasil e diz que incêndios na Amazônia terão “impacto catastrófico para a Humanidade”.

Diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, nesta segunda (9), a chilena alertou para o impacto dos incêndios na Amazônia, a situação de indígenas e as ameaças contra ambientalistas, além de pressionar governos da região para que implementem políticas sustentáveis e cooperem com a comunidade internacional.

“Estamos queimando nosso futuro, literalmente. O mundo nunca viu uma ameaça para os direitos humanos dessa dimensão. Estou profundamente preocupada com a drástica aceleração do desmatamento da Amazônia”. Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para Direitos Humanos.

A alta comissária adotou um tom de alerta contra aqueles que usam a soberania como argumento para evitar a cooperação internacional, insistindo sobre a necessidade de que se apoie a ideia do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, de convocar uma cúpula no final do mês para tratar da crise ambiental.

“Essa não é a situação onde um país ou político pode ficar de fora. As economias de todas as nações, o tecido social, político e cultural de todos os estados serão afetados. O total de mortes e danos causados nas últimas semanas na Bolívia, Paraguai e Brasil pode nunca ser conhecido. Apelo às autoridades dos seus países para que assegurem a implementação de políticas ambientais de longa duração e de sistemas de incentivo à gestão sustentável, evitando assim tragédias futuras”. Michelle Bachelet.

O Brasil foi um dos 40 países citados nominalmente pela representante da ONU em seu discurso inaugural da reunião da ONU como locais de preocupação por conta da situação de direitos humanos. O governo brasileiro terá direito de resposta, na terça-feira.

Crise diplomática

O discurso ocorre num momento em que o Brasil está em campanha para obter votos em sua corrida por mais um mandato no Conselho de Direitos Humanos.

O alerta foi considerado ainda como uma espécie de “ensaio geral” do que Bolsonaro enfrentará quando desembarcar em Nova Iorque, para a Assembleia Geral da ONU, em duas semanas.

Tudo isso depois que, em entrevista, ela criticou a violência policial no Brasil e alertou para a redução do espaço democrático no País, além de denunciar a situação da Amazônia.

Como resposta, o presidente Jair Bolsonaro fez uma apologia ao regime de Augusto Pinochet e citou o pai de Bachelet, morto pela ditadura chilena. A própria Bachelet foi presa e obrigada a deixar o país por anos.

Ao incluir o Brasil em seu discurso, ela mandou um recado de que não hesitará em fazer suas denúncias e que os ataques de Bolsonaro contra sua família não a intimidarão. Bachelet aproveitou para manda rum recado a governos que ainda fazem apologias de ditadores:

“Nossos países tem demonstrado que, em muitas ocasiões, podem superar desafios enormes de direitos humanos. Alguns, como o meu, virou suas costas para a ditadura e estabeleceu democracias vibrantes. Muitos permitiram que pessoas anteriormente discriminadas e oprimidas – incluindo mulheres – fizessem suas escolhas fundamentais, em liberdade. Hoje, temos de defender conquistas que foram duras de atingir”. Michelle Bachelet.

Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro atacou nesta quarta (4) o pai de Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para direitos humanos e ex-presidente do Chile. Ele foi morto pela ditadura militar de Augusto Pinochet. A crítica veio após Bachelet dizer em uma entrevista que o Brasil sofre uma “redução do espaço democrático”, especialmente com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.

“Michelle Bachelet, seguindo a linha do presidente francês Emmanuel Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”. Jair Bolsonaro, presidente.

Ele ainda mencionou o Brasil “não ter virado Cuba” ou ser entregue aos comunistas pelo basta em 1973. Tudo isso em uma publicação com uma foto de Bachelet, quando presidente, ao lado das ex-presidentes Dilma Rousseff (Brasil) e Cristina Kirchner (Argentina).

O presidente disse que a alta comissária da ONU “defende direitos humanos de vagabundos”.

“Michelle Bachelet está acusando que eu não estou punindo policiais, que estão matando muita gente no Brasil. Essa é acusação dela. Ela está defendendo direitos humanos de vagabundos. Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela. Quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU”. Jair Bolsonaro, presidente.