Em sua fala em um “congresso conservador”, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo criticou a relação do governo Bolsonaro com o Centrão.
Para ele, “o governo virou a base do Centrão“, e não o contrário e que “a maioria do governo nunca quis enfrentar o sistema”.
E usando insistentemente uma referência ao filme Matrix para explicar o seu ponto de vista, ele disse que o presidente Jair Bolsonaro tomou a “pílula azul“ – que no filme é a alegoria para seguir vivendo no mundo de ilusões, ao invés de tomar a vermelhar e acordar pra realidade.
“Um governo, que foi eleito por uma grande tomada de pílula vermelha, resolveu tomar a pílula azul. Em muitos casos, infelizmente, as pessoas já vieram com a pílula azul desde o começo. Eram poucos aqueles que continuavam dentro desse projeto de transformação do sistema. Muitos estavam ali fingindo, para cá e para lá. Estão até hoje, mas gostam mesmo é da pílula azul”. Ernesto Araújo.
Apesar de insistir que no atual governo falta coragem, convicção, ou interesse, Araújo resolve não jogar a culpa em Bolsonaro. Para ele, o presidente está sendo enganado sem consentimento:
“O pior é que colocaram uma pílula azul no café do presidente da República. Azularam completamente o governo e a atuação do presidente”. Aí surgiu aquela coisa: ‘Precisamos fazer do Centrão a base do governo’. Na verdade, o que a gente viu é que o governo virou a base do Centrão”. Ernesto Araújo.
Ernesto Araújo pediu demissão do Ministério das Relações Exteriores no dia 29 de março deste ano. O chanceler enfrentou forte pressão para deixar o cargo.
2 dias antes da demissão, um grupo de ao menos 300 diplomatas do Itamaraty escreveu uma carta com críticas a Araújo. Esse tipo de manifestação é raro no meio, devido à disciplina imposta pela carreira diplomática.