28 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Veja entrevista líder de grupo que diz planejar assassinato de Bolsonaro

Representante do SSS (Sociedade Secreta Silvestre) ameaça presidente, seus familiares e dois ministros

A capa da revista VEJA desta semana trás uma reportagem com denúncia séria: um grupo planeja o assassinato do presidente Jair Bolsonaro, seus familiares e pelo menos dois ministros.

Aparentemente, há seis meses a Polícia Federal caça integrantes de um grupo terrorista que já praticou pelo menos três atentados a bomba em Brasília e anuncia como seu objetivo mais audacioso matar o presidente da República.

Entretanto, com exclusividade, a VEJA entrevistou um dos líderes da Sociedade Secreta Silvestre (SSS), que se apresenta como braço brasileiro do Individualistas que Tendem ao Selvagem (ITS), uma organização internacional que se diz ecoextremista e é investigada por promover ataques a políticos e empresários em vários países.

O terrorista identifica-se como “Anhangá” e manteve contato pela deep web, uma espécie de área clandestina da internet que, irrastreável, é utilizada como meio de comunicação por criminosos de várias modalidades.

SSS e ITS

Espécie de holding internacional dos chamados ecorradicais, o ITS foi fundado em 2011 no México e afirma ter representantes também na Argentina, Chile, Espanha e Grécia. A organização se diz contra tudo o que leva à devastação do meio ambiente e defende o uso de medidas extremas e atos violentos contra os inimigos da natureza. O que, claro, não tem coerência alguma.

Anhangá garante que o plano para matar Bolsonaro é real e começou a ser elaborado desde o instante em que o presidente foi eleito. Era para ter sido executado no dia da posse, mas o forte esquema de segurança montado pela polícia e pelo Exército acabou fazendo com que o grupo adiasse a ação.

Dias antes da posse, a SSS colocou uma bomba em frente a uma igreja católica distante 50 quilômetros do Palácio do Planalto. O artefato não explodiu por uma falha do detonador. No mesmo dia, a SSS postou um vídeo na internet reivindicando o ataque e revelando detalhes da bomba que só quem a construiu poderia conhecer.

O grupo também anunciou que o próximo alvo seria o presidente eleito, o que levou as autoridades a sugerir o cancelamento do desfile em carro aberto. Na ação seriam usados explosivos e armas.

“Facilmente poderíamos nos misturar e executar este ataque, mas o risco era enorme (…) então seria suicida. Não queríamos isso. A finalidade máxima seriam disparos contra Bolsonaro ou sua família, seus filhos, sua esposa.” “Anhangá”, terrorista do SSS.

A VEJA apurou que o STF também reuniu evidências de um plano real de ataque contra um ministro da Corte. Os investigadores descobriram que outro grupo havia monitorado durante algum tempo a rotina de um dos magistrados, cujo nome é mantido em sigilo, e de sua família, que mora em São Paulo.

O objetivo era definir o melhor lugar para uma emboscada, e o local escolhido foi o Aeroporto de Congonhas. Por questões de segurança, autoridades e políticos têm acesso a salas vip em aeroportos.

A ideia dos criminosos era cercar o carro do ministro na saída do terminal e metralhá-lo. “Eles diziam que ‘iam abrir fogo’”, revela um magistrado que teve acesso à investigação, conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes.

Curiosamente, o plano foi discutido em um chat da deep web também frequentado pelos estudantes Guilherme Monteiro e Luiz Henrique de Castro. Para quem não lembra, em março esses dois rapazes invadiram uma escola em Suzano, no interior de São Paulo, executaram cinco alunos e duas funcionárias e depois se mataram.

Ministros

Depois disso, em abril, dois carros do Ibama foram incendiados em um posto do órgão em Brasília. Em meio aos escombros, encontraram-se palitos de fósforo, restos de fita adesiva e vestígios de um líquido inflamável. No local, havia pichações com ameaças de morte ao ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente.

O grupo assumiu a responsabilidade pelo atentado e exibiu o material utilizado durante o ataque, oferecendo provas de que era mesmo o autor do crime. E alertou para a existência de um terceiro alvo no governo: Damares Alves, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos.

“Salles é um cínico, e não descansará em paz, quando menos esperar, mesmo que saia do ministério que ocupa, a vez dele chegará. É um lobo cuidando de um galinheiro. E Damares se tornou a cristã branca evangelizadora que prega o progresso e condena toda a ancestralidade. O eco-extremismo é extremamente incompatível com o que prega o seu ministério”. “Anhangá”

Audálio

Na matéria, há o alerta que em 1º setembro do ano passado passou despercebida uma mensagem no Facebook que trazia uma ameaça ao então deputado Jair Bolsonaro. O autor escreveu que testaria “a valentia” do então candidato do PSL à Presidência da República quando os dois se encontrassem e que ele “merecia” levar um tiro na cabeça.

Ninguém deu atenção porque o autor, um garçom desempregado, também costumava publicar em sua página na rede social textos desconexos e teorias conspiratórias absolutamente sem sentido. Cinco dias depois, no entanto, Adélio Bispo de Oliveira, o autor da mensagem, esfaqueou Bolsonaro em uma passeata em Juiz de Fora (MG).