28 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Alagoas

A segurança no retorno das atividades não depende de decreto, mas na redução de casos de covid-19

Enquanto não houver achatamento de curva, a reabertura precoce de serviços essenciais provocará mais estragos que benefícios

Governador Renan Filho e prefeito Rui Palmeira reforçam necessidade da população seguir cumprindo o isolamento. Foto: Márcio Ferreira

Ao lançar o atual decreto com medidas contra o avanço do coronavírus em Alagoas, o governador Renan Filho, ao lado do prefeito Rui Palmeira, comunicou que no dia 15 de junho sairia um protocolo sobre o plano de reabertura das atividades econômicas.

A portaria, com a mesma, saiu como planejado e listava, entre outros, regras a serem seguidas para que os estabelecimentos de setores e ramos que não são essenciais, hoje prejudicados pela pela pandemia, retornassem às atividades.

E a empolgação da Associação Comercial e Aliança Comercial em Alagoas e Maceió preocupa: tudo indica que o setor retorne às suas atividades neste dia 22.

Quando as primeiras medidas emergenciais foram tomadas em decreto, o número de casos era, se comparado hoje, insignificantes. No momento da primeira morte, 24 dias após a confirmação do primeiro caso, Alagoas contava apenas 17 casos confirmados de covid-19. Hoje, a Secretaria de Saúde confirma mais de um óbito por hora. E já temos mais de 23.600 casos confirmados.

O que mudou desde então? Qual a mudança de concepção, para se achar que já há segurança para o retorno das atividades? Evidentemente, o comércio sofre. Empresários e funcionários estão passando por momentos difíceis, financeiramente, mas para isso existe o governo: para o auxílio nestes momentos difíceis.

O problema da crise não é a economia, mas a pandemia. Mesmo que bares, restaurantes e shoppings sejam abertos, ainda assim haverá a parcela da população que, sabiamente, evitará aglomerações. E independente de tudo, os números do comércio não justificariam este retorno. Ainda mais com a saúde de tanta gente em risco.

Infelizmente, num nível federal, houve uma sabotagem contra o coronavírus. E com muitos duvidando da pandemia, achando que há um complô de governadores contra o presidente ou que o “vírus chinês” não é nada disso do que estão falando, vemos o reflexo disso nas ruas.

Não é raro topar com pessoas sem máscara. Isso quando não estão usam a mesma, mas como suporte para o queixo, deixando o rosto completamente exposto. Ou mesmo na testa.

Quase como se estivessem utilizando ela apenas para evitar questões legais ou apenas para se enturmar. Algo como “estou com a máscara no rosto, mas não tô me preocupando com esse vírus”.

Há ainda os casos desconcertantes dos que teimam em deixar o nariz de fora. A máscara incomoda, é verdade. Talvez até aperte contra o rosto, mas de que adianta cobrir a boca com as narinas expostas?

Isso porque não devemos nos esquecer dos seres “geniais” que retiram a máscara para enviar um áudio no celular. Como se o som de sua boca fosse terrivelmente abafado por elas.

O pior de todos é o que resolve gritar tirando a máscara, assim como aquele que pra espirrar ou tossir, faz o mesmo. Ainda que pro lado, ainda que cobrindo com o braço: a máscara é para confinar você dentro dela. Falando, tossindo, espirrando. Depois a descarte, a troque.

Só que, como população, ainda não aprendemos. E isso vai custar caro.

Sem achatamento

Toda a proposta do distanciamento ou isolamento social servia para achatar a curva de contágio: se o vírus é perigoso e altamente contagioso, seria vital impedir que muitos fiquem doentes ao mesmo tempo, pois não haveria vagas em hospitais.

No momento deste texto, estamos com mais de 80% das vagas de UTI ocupadas em Alagoas. E como é possível ver no gráfico de casos da covid-19, os números estão em disparada franca. Mortos são mais de 20, todos os dias. Isso com o “relaxado” distanciamento social.

Com PMs e guardas municipais afastados, Renan Filho e Rui Palmeira já admitiram que, por falta de efetivo, não seria possível fiscalizar, em grande escala, o seguimento à risca das medidas do decreto.

Isso hoje, com o simples “logas devem estar fechadas” ou “clientes do lado de fora”. Com o relaxamento, situações de exposição ao vírus seriam mais comum. E letais, pois mais ficariam doentes ao mesmo tempo, com muitos não tendo como serem atendidos.

Infelizmente, os estados brasileiros vão aos poucos relaxando e retornando às atividades econômicas, durante a pandemia, sem nunca ter entrado de verdade em quarentena. Mas, que bom, poderemos andar nos shoppings novamente.