27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Bolsonaro diz que a palavra do ministro Barroso ‘não vale nada’

Presidente diz que não vai se intimidar e diz que o povo tem que andar armado

Bolsonaro diz que não se intimidar e faz novas ameaças ao ministro Barroso

Um dia após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovar duas medidas contra o presidente Jair Bolsonaro, o mandatário aproveitou o encontro matinal com seus apoiadores, na frente do Palácio do Alvorada, para responder as duras críticas que recebeu ontem do Judiciário, especificamente do ministro do TSE Luis Roberto Barroso.

“Barroso presta um desserviço à população brasileira”, destacou, voltando a insistir na instituição do voto impresso no país. “Volto a pedir voto impresso, o Brasil está sendo agredido internamente”, emendou.

Nas críticas ao presidente do TSE, Bolsonaro voltou a faltar com a verdade e associar o magistrado à defesa da pedofilia, falando algo que já foi desmentido, de que ele defende a redução da maioridade para estupro de vulneráveis e que isso beira a defesa da pedofilia. Aos apoiadores, Bolsonaro voltou a apresentar suas próprias estatísticas para dizer que as urnas eletrônicas não são confiáveis e disse se eles confiavam mais “em relatório da Polícia Federal ou no Barroso.” Bolsonaro disse que “joga dentro das regras constitucionais” e Barroso não.

Na segunda-feira, os ministros do TSE votaram por unanimidade a favor da instauração de inquérito administrativo e envio de notícia-crime ao Supremo contra o presidente pelas declarações infundadas de irregularidades no sistema eleitoral e ameaça à realização das eleições. Os ministros decidiram abrir um inquérito administrativo e, ainda, pedir a inclusão de Bolsonaro em outra investigação, a das fake news, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

O presidente afirmou que não aceitaria intimidações, e que manteria seu direito de cidadão de liberdade de expressão. Segundo o presidente, o Brasil está mudando, com um elogio a sua própria gestão. “Hoje o Brasil mudou, tem presidente que respeita militares, família, é leal a seu povo” afirmou “não haverá retrocesso”.

Palavra ‘sem valor’

Em posse de dois relatórios da Polícia Federal sobre as urnas, Bolsonaro declarou que, se o presidente do TSE continuar “insensível” a seus apelos contra o sistema eleitoral, e o povo desejar, haverá um movimento na Avenida Paulista, em São Paulo, para mandar um “último recado” ao ministro. “Senhor Barroso, sua palavra não vale absolutamente nada. Está a serviço de quem?”, questionou.

Bolsonaro se mostrou bastante insatisfeito com Barroso, e dedicou toda a sua conversa com apoiadores nesta manhã a criticar o ministro. Bolsonaro argumentou que a briga com o presidente do TSE não era para mostrar “quem é mais macho”, mas que ele não abria mão de demonstrar quem respeitava a Constituição, coisa que acusou o ministro de não fazer.

O chefe do Executivo tentou diminuir o impacto de suas críticas ao ministro afirmando que elas não eram direcionadas ao TSE ou ao STF, mas apenas contra Barroso. “O ministro Barroso presta um desserviço à nação brasileira, cooptando agora gente de dentro do Supremo, querendo trazer para si, ou dentro do TSE, como se fosse uma briga minha contra o TSE ou contra o Supremo, não é. É contra o ministro do Supremo que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral querendo impor a sua vontade”.

Bolsonaro reiterou que não serão admitidas “eleições duvidosas” no ano que vem. Na segunda-feira, o presidente, que vinha ameaçando a realização do pleito, tentou mudar o discurso ao afirmar que sem o voto impresso não teríamos eleições “democráticas”. Nesta manhã, contudo, ele voltou a ser mais enfático ao questionar o pleito.

‘Povo armado’

Na conversa na saída do Palácio da Alvorada, o presidente fez insinuações ao sugerir reação popular nas ruas e dizer que o “povo tem que estar armado”. “Todas as ditaduras precederam a campanha de desarmamento, comigo é diferente, o povo de bem tem que estar armado, a exemplo do povo americano, para que exatamente, protótipo de ditadores não queiram fazer valer a sua vontade”, disse o presidente.

Em meio a críticas ao presidente do TSE e ataques ao sistema eleitoral, o mandatário citou a seguinte passagem bíblica: “nada temeis, nem mesmo a morte, a não ser a morte espiritual, que é eterna”. Em conversas anteriores com apoiadores no chamado “cercadinho”, Bolsonaro já havia feito apelos velados para que sua base de apoio orgânica se opusesse nas ruas às instituições diante de eventual recusa à implementação do voto impresso. “Meu exército são vocês”, disse em outra ocasião. “Jurei dar minha vida pela pátria, no caso de uma ameaça externa ou interna. E o Brasil está sendo agredido internamente”, disse hoje a seus simpatizantes.