26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Cemitério de Bebedouro: o segundo “enterro” dos mortos e a esperança dos vivos

Por: Graça Carvalho

Hoje, pela tradição Católica, muitas pessoas irão aos cemitérios, embora ainda assombradas pela possibilidade de uma nova onda da Covid-19. Para quem tem entes queridos sepultados no Cemitério Santo Antônio, em Bebedouro, um dos bairros afetados pelas atividades de mineração da Braskem, em Maceió, certamente, o sofrimento ainda será maior.
Desde a interdição, no mês passado, por meio de uma portaria da Superintendência Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Sudes), em razão da instabilidade geológica do solo, as famílias, já desnorteadas com as consequências em sua vida cotidiana, têm uma preocupação a mais que é pensar em transferir os restos mortais dos seus parentes para outros locais, evidentemente, contando com a responsabilização da mineradora.
Na semana que antecedeu a este Finados, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mais importante entidade representativa dos católicos, publicou vídeo recomendando que os brasileiros e brasileiras plantassem árvores, onde quisessem e dedicassem esse gesto aos seus entes queridos e à mãe natureza, que agoniza com as queimadas. Excelente mensagem, que pode aliviar um pouco o coração, sobretudo, dos bebedourenses e seus mortos refugiados.
Esse assunto me toca profundamente. Os restos mortais de meu pai, meu avô e dois tios estão também nesse cemitério. Morei em Bebedouro, estudei no Colégio Bom Conselho. Fiz “Primeira Comunhão” na Igreja de Santo Antônio, de onde o atual celebrante, padre Valfrânio, diz que só sai quando o último morador sair. (Que postura louvável, obrigada, padre).
Evidentemente, falando, hoje, com um sentimento de Espírita que sou (ou tento ser, há mais de 20 anos), reflito que todos os dias e locais são adequados para lembrar de alguém que se foi e dirigir a esse espírito uma prece, ou simplesmente um pensamento de gratidão, de perdão, de carinho. Contudo, neste Finados, precisava falar dessa dor.
Então, “se a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”, que todos nós, bebedourenses de ontem e de hoje, plantemos árvores de esperança nos nossos quintais, nas nossas varandas neste momento de “enterro” do passado, do presente e do futuro de um bairro que reuniu, na pracinha Lucena Maranhão, pessoas de tantos credos diferentes, de classes sociais opostas e de partidos antagônicos, ao longo de sua existência.
Esperança não só de que haja responsabilização da mineradora, mas que esse impacto na vida de tantas famílias, sejam elas de Bebedouro, Bom Parto, Mutange ou Pinheiro (onde tudo começou a estourar), sirva ao menos de alerta para evitar catástrofes semelhantes em outros pontos da nossa cidade, enfim, do nosso planeta.

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