27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Com mortes batendo recordes, ações contra pandemia sofrem sabotagem até em sua CPI

Bolsonaro luta para desviar foco no governo federal e que CPI também governadores e mais de 5 mil prefeitos

O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) divulgou, neste domingo, uma conversa que teve com o presidente Jair Bolsonaro, enquanto sabotavam os planos de abertura da CPI da Pandemia – informalmente chamada de CPI do Genocídio. A trama entre os dois tinha como objetivo mudar o foco das investigações e focar também em governadores e prefeitos.

Originalmente, a comissão que teve instalação determinada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), é investigar as eventuais omissões do governo federal no combate ao coronavírus. Uma das assinaturas, inclusive, foi do então senador Major Olímpio, que morreu de covid-19.

Agora, sem tempo, e com cada vez mais pessoas sendo levadas pela covid-19, o presidente luta para não ser responsabilizado e quer empurrar a culpa para alguns dos outros 27 governadores e mais de 5 mil prefeitos.

“Se não mudar o objetivo da CPI, ela vai vir para cima de mim. O que tem que fazer para ser uma CPI útil para o Brasil: mudar a amplitude dela, bota presidente da República, governadores e prefeitos (…) Se não mudar, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana”. Jair Bolsonaro, presidente.

Kajuru foi um dos autores da ação que levou à decisão do STF, na última quinta-feira. Mas para se jogar nos braços de bolsonaristas, divulgou o diálogo que teve com o presidente em uma conversa que disse ser “clara e honesta” e que não aceita CPI da Covid política e revanchista.

Enquanto isso, pairamos sobre a projeção de 650 mil mortos até 1º de agosto. Só na última semana, o Brasil perdeu 21.172 pessoas por covid-19. Nunca antes a doença matou tanto em uma única semana no país. E com tanta sabotagem, esse índice só tende a crescer.

Não é papel

O líder da minoria no Senado Jean Paul Prates (PT-RN), lembra que não é atribuição do Senado investigar governadores e prefeitos,  a não ser em casos muito concretos.

“Para isso, estão as Assembleias Legislativas, os TCEs em auxílio a elas e as Câmaras Municipais. Cada instância no seu lugar. O papel aqui é de investigar a situação nacional, que se refletiu no Amazonas como um dos pontos agudos”. Jean Paul Prates.

Prates lembrou o óbvio: se uma comissão tiver que investigar mais de 5 mil chefes do executivo no Brasil, ela não chegaria a lugar nenhum. Ou demoraria anos para concluir seus trabalhos ou nem seria aberta. Este, aliás, é todo o ponto proposto por Bolsonaro.

Os presidentes do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), dizem que não é hora de apontar culpados. Kajuru e Bolsonaro lutam para mudar o foco.

Hospitais sequem lotados, com projeções de equipamentos e medicamentos faltando. Já há regiões no Brasil em que a população diminuiu de tamanho. E a CPI, que nem começou, periga fazer com que tudo termine em pizza.