27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Diretora da Precisa recebeu ligações de senador governista da CPI e de militar

Ligações ocorreram antes de escândalo envolvendo contrato de R$ 1,6 bi para compra da Covaxin; Defesa não comenta, e Luis Heinze diz que não se lembra

O celular da diretora da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, registra oito chamadas de um telefone usado por um capitão-de-mar-e-guerra com cargo de gerência no Ministério da Defesa e quatro ligações do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), um dos mais ferrenhos defensores do presidente Jair Bolsonaro na CPI da Covid no Senado.

Nos dois casos, Medrades foi procurada antes do escândalo envolvendo o contrato de R$ 1,61 bilhão para a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin. As informações dos registros estão no relatório da quebra do sigilo telefônico da diretora da Precisa, determinada pela CPI.

Dados telefônicos da diretora, em posse da CPI, apontam contatos intensos com os principais gabinetes do Ministério da Saúde, no período da primeira proposta para negociar a Covaxin. Medrades, por exemplo, manteve contato mesmo com diretorias sem ligação aparente com a compra de imunizantes, como a diretoria de logística.

Medrades tem trânsito fácil em Brasília, e coube a ela fazer as principais tratativas junto ao Ministério da Saúde para garantir a assinatura do contrato em 25 de fevereiro. A Precisa fez a intermediação do negócio.

Diante das suspeitas de fraude e corrupção, o contrato é investigado pela CPI e em procedimentos formais instaurados por PF (Polícia Federal), MPF (Ministério Público Federal), CGU (Controladoria-Geral da União) e TCU (Tribunal de Contas da União).

Heinze e Militar

Há registro de uma ligação para Medrades de um celular que é usado pelo capitão da Marinha Leonardo José Trindade de Gusmão. A patente é equivalente à de coronel no Exército e na Aeronáutica.

Gusmão é gerente do Departamento de Promoção Comercial do Ministério da Defesa. O departamento é vinculado à Secretaria de Produtos de Defesa.

No caso do celular de Heinze, há registros de quatro chamadas, todas elas feitas em 18 de abril deste ano.Cinco dias antes, a CPI havia sido formalmente criada.

A instalação só ocorreu em 27 de abril, nove dias após as ligações para a diretora da Precisa Medicamentos. Heinze assumiu uma vaga titular na CPI da Covid, com a nomeação de Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil do governo Jair Bolsonaro.