26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

G20 encerra com Bolsonaro como piada sem aliados e nem respeito internacional

Com participação vergonhosa, presidente passou mais tempo com garçons e mentindo sobre sua atuação do que prospectando negócios para o Brasil

O encontro dos líderes das 20 maiores economias do mundo chegou ao fim neste domingo (31). E não só faltaram promessas mais específicas para lidar com a ameaça do aquecimento global, como sobraram evidências de que Jair Bolsonaro é um fracasso.

Eleito com forte apelo popular e prometendo retomada da economia, volta do respeito internacional e fim da corrupção, o governo Bolsonaro falhou em tudo isso e mais um pouco.

O foco poderia ser perfeitamente as inúmeras acusações de corrupção (como compra de votos no Congresso ou roubo do salário de assessores) e a destruição de diversos segmentos nacionais (como Educação, Ciência ou Indústria), mas destruição econômica e diplomática imposta por Bolsonaro ficou clara neste G20, sediada em Roma, na Itália.

Piada e pária

Não saber falar inglês ou o idioma de outra pessoa nunca foi problemas para nenhum líder. Para isso, há tradutores, portanto a língua nunca limitou o diálogo entre países.

O problema mesmo é quando uma das partes não sabe falar ou se portar, agindo como se a vida fosse uma sala de Whatsapp ou um cercadinho de fanáticos e bajuladores.

Enquanto Angela Merkel (Alemanha), Emmanuel Macron (França), Antônio Guterres (ONU) e Ursula van der Leyen (União Europeia),  Scott Morrison (Austrália), Justin Trudeau (Canadá), Narendra Modi (Índia), Boris Johnson (Reino Unido) e até mesmo Joe Biden (que sofre no início de governo nos EUA) formavam rodas de conversa para dialogar, Bolsonaro ficava sozinho.

Como um jovem inexperiente, sem assunto ou que não tinha o que fazer em uma festa com pessoas mais importantes, populares ou capazes, Jair se reservou a ficar olhando, de longe.

E dependente do apoio de amigos de longa data, como seus ministros, para não ficar sozinho sentado em um sofá, enquanto o importante acontecia longe dele.

Também, pudera: Jair chamou de mocreia a esposa de Macron, tirou fotos sorridente com uma nazista, disse na cara de Boris Johnson que não vai se vacinar e, viúvo de Trump, demorou a parabenizar Biden pela vitória nas eleições (que, até hoje, ele diz ter sido de forma roubada). Como esperar que estas pessoas queiram ele ao seu lado?

O jornal italiano La Repubblica reforçou ainda que o primeiro ministro da Itália, Maro Draghi, apertou a mão de todos os presentes, mas não de Bolsonaro, “afinal, ele acredita que as vacinas causam a Aids”, completou o jornal. Ou seja: trocando em miúdos, Bolsonaro é tratado como tóxico malquisto.

Sendo o único do G20 que não tinha reuniões com outros líderes, Bolsonaro tentou passar o tempo como pôde. Conversou com os garçons. Fez piadas falando em português e, claro, não fez ninguém rir além de si mesmo. Falou da final da Copa de 1970, pois vive no passado, e de máfia, pois não tem noção da gravidade em se falar disso na Itália.

O único com quem falou mais do que duas palavras foi Recep Tayyip Erdogan, o presidente da Turquia, que aos poucos vai se tornando um ditador local. E emendou essas mentiras:

“Eu também tenho um apoio popular muito grande. Temos uma boa equipe de ministros. Não aceitei indicação de ninguém. Fui eu que botei todo mundo. Prestigiei as Forças Armadas. Um terço dos ministros é de militares profissionais. Não é fácil. Fazer as coisas certas é mais difícil”. Jair Bolsoanro, presidente.

Vamos lá: ele não tem apoio popular grande, quase todos os seus ministros são indicação do centrão e os que são militares aos poucos vão destruindo a credibilidade da instituição. Além de tudo, só mentira.

Sabendo que estava pagando mico, expulsou a impressa brasileira, que o retratou sozinho sentado no sofá. Sozinho não: estava com Paulo Guedes, da Economia, e Marcelo Queiroga, da Saúde.

Queiroga, aliás, que depois das dedadas em Nova York, resolveu brincar junto com Bolsonaro durante encontro com Guterres (ONU) dizendo, aos risos, que vão passear em Haia, cidade sede do Tribunal Internacional onde ele e Bolsonaro são acusados de genocídio.

Além disso, uma manifestação pró-Bolsonaro (isso ainda existe) com brasileiros que vivem na Itália acabou em violência e intimidação contra jornalistas que cobriam o evento, na região da embaixada do Brasil, em Roma, neste domingo.

Agentes de segurança italianos e brasileiros empurraram, deram socos e arrancaram celular de um repórter que filmava o ato, seguraram, gritaram e impediram repórteres de chegar perto do presidente para entrevistá-lo.

Tétrico desfecho de uma passagem que começou com fezes na prefeitura local que promete homenageá-lo e com um Bolsonaro fugindo da 26ª edição da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia, que já começou.

Como a cara da destruição da Amazônia (que ele diz não pegar fogo por ser úmida e já acusou até Leonardo DiCaprio pelo desmatamento, pois não pensa antes de falar), Bolsonaro evitou ser o centro dos holofotes na conferência climática, com medo da reação internacional. Pura covardia.

Mentir para o cercadinho, com bajuladores fanáticos, é muito fácil. Mentir para os parceiros internacionais, muitos deles com PhD e com bilhões de reais em investimento para o Brasil é que são outras. Se foge até durante programa da Jovem Pan, imagina quando a coisa é mais séria.