A morte que causou a suspensão das pesquisas da vacina CoronaVac foi o suicídio de um voluntário de 33 anos ocorrido em 29 de outubro. O caso foi usado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para interromper as pesquisas da vacina que eram lideradas pelo Instituto Butantan.
A decisão causou surpresa e irritação em autoridades de saúde do estado de São Paulo que classificam a decisão do governo federal de desleal.
O descontentamento existe porque os responsáveis pela pesquisa não enxergam o suicídio como um efeito adverso relacionado a pesquisa da vacina. Cabe ressaltar que não é a primeira morte de voluntários da CoronaVac.
No começo do estudo, uma pessoa morreu em Porto Alegre. Uma investigação foi aberta e ficou constatado que o voluntário havia tomado placebo, substância que não tem o princípio ativo.
Suicídio
O caso que suspendeu as pesquisas aconteceu em São Paulo. Ainda não se sabe se foi aplicada vacina ou placebo, mas o homem era voluntário no Hospital das Clínicas de São Paulo, que iniciou uma investigação e comunicou à Comissão Nacional de Ética em Pesquisas e a Anvisa. A conclusão do trabalho apontou que não houve relação com a pesquisa.
O controle de quem toma placebo e quem toma a vacina de fato é feito por uma comissão internacional. Somente estes técnicos podem responder se o homem de 33 anos tinha recebido a CoronaVac ou placebo. Esta informação ainda não é de conhecimento das autoridades de saúde de São Paulo.
É importante ressaltar que seja vacina ou placebo, a morte por suicídio é interpretada como situação sem envolvimento com a pesquisa. O que irritou as autoridades paulistas no caso é a diferença de tratamento deste caso ocorrido na cidade de São Paulo e o que ocorreu em Porto Alegre. Existe reclamação que desta vez a Anvisa resolveu suspender os testes antes de pedir explicações.
“Vitória” contra Doria
Antes da revelação do motivo, em resposta a um seguidor em sua conta no Facebook, o presidente escreveu que “ganhou” do tucano por causa da decisão da Anvisa.
O comentário de Bolsonaro foi publicado em resposta a um usuário, que perguntou se o Brasil poderia comprar e produzir a vacina. O presidente citou três dos efeitos listados hipoteticamente pela Anvisa e ainda recordou uma de suas desavenças com Doria, sobre a obrigatoriedade ou não dos imunizantes.
O imunizante contra a covid-19 é desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, e a Anvisa suspendeu ontem seus testes clínicos após um “evento adverso grave”. A agência não disse qual foi o problema relatado.
A Coronavac é a vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. E uma fábrica de 10 mil m² seria responsável pela produção de 100 milhões de doses.
Rivalidade
Com o comentário, Jair Bolsonaro retoma o embate que tem travado com Doria desde o início da pandemia. O presidente tem tratado a Coronavac como “vacina chinesa do Doria” e recentemente cancelou uma parceria firmada entre o Ministério da Saúde o Governo de São Paulo para a aquisição do imunizante.
Outro ponto de atrito é a obrigatoriedade da vacina. Doria se mostrou favorável à possibilidade no Estado de São Paulo, o que tem gerado críticas constantes de Jair Bolsonaro e seus seguidores.
Em outra resposta a um internauta, que sugeria que o presidente se vacinasse como cobaia de vacinas, Bolsonaro voltou ao tema: “quem a quer obrigatória não sou eu. Estás na página errada. Bom dia”.
Aliados do governador João Doria (PSDB) questionaram a divulgação da informação por meio de nota, em horário nobre de noticiários de televisão, justamente nesta segunda (9).
Dono de um discurso negacionista da pandemia, o presidente tem no governador uma rivalidade: enquanto Bolsonaro questiona a obrigatoriedade da vacinação e já repreendeu seu ministro da Saúde por considerar o uso do imunizante chinês, o tucano fez uma grande aposta na Coronavac.