27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

País vive alto índice de contágio, UTIs estão lotando e Fiocruz fala em ‘mês triste’ para março

Dezoito dos 26 estados estão com mais de 80% dos leitos de UTI destinados ao tratamento da covid-19 ocupados

A taxa de transmissão da covid-19 no Brasil teve uma alta expressiva, de acordo com um levantamento feito pela universidade britânica Imperial College de Londres. O estudo foi divulgado nesta terça-feira (2), e faz um comparativo com o levantamento divulgado na semana passada pela instituição.

Agora, o Rt, que é o índice que mede a transmissão, está em 1,13, ante os 1,02 e 1,03 apresentado em dias anteriores. A margem do Rt brasileiro para o Imperial College pode variar entre 1,10 e 1,15. No Brasil, quando o índice de transmissão está acima de 1, significa que a covid-19 está sem controle. Desde dezembro o Brasil apresenta uma taxa de Rt acima de 1.

Segundo as projeções, o Brasil poderá registrar 9.190 mortes pela covid-19 nesta semana. A universidade britânica acredita que, no pior dos cenários, os casos fatais no país podem chegar a 9.500.

UTIs

Dezoito dos 26 estados estão com mais de 80% dos leitos de UTI destinados ao tratamento da covid-19 ocupados, o que indica a iminência de um colapso generalizado do sistema de saúde do país.

O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) defende a adoção imediata de lockdown (fechamento do maior número possível de atividades, liberando apenas o essencial) em locais acima de 85% e um toque de recolher nacional, das 20 às 6 horas.

O alerta de ocupação e risco de falta de leitos é da pesquisadora Margareth Portela, do Observatório Fiocruz Covid-19, que faz o levantamento para o boletim quinzenal da instituição.

Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Tocantins, Amazonas, Rondônia, Acre e Roraima têm situação mais crítica.

Margareth Dalcomo recebeu em janeiro a dose da vacina Oxford/AstraZeneca na Fiocruz. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Mês triste

Em entrevista à BBC News Brasil, Margareth Dalcolmo, professora e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a médica, que se tornou uma das vozes mais ativas e influentes da ciência brasileira durante a pandemia, analisa como chegamos até esse estágio da pandemia e o que pode ser feito a partir de agora para aliviar a crise sanitária.

“As festas de final de ano foram trágicas. Eu mesma me manifestei diversas vezes dizendo que o Brasil teria o mais triste janeiro de sua história. E realmente tivemos, inclusive com o aparecimento da variante brasileira, identificada na família que viajou ao Japão vinda do Amazonas. E agora eu não tenho dúvida de que teremos o mais triste março de nossas vidas. Isso é resultado do Carnaval e do descompasso entre o que nós, cientistas, dizemos, e o que as autoridades afirmam. Nos últimos dias, ouvimos que não é pra usar máscaras. Não há dúvidas, está demonstrado que a máscara é uma barreira mecânica que protege quem usa e todo mundo ao redor”. Margareth Dalcolmo.