Estava correndo atrás da notícia, quando passo em frente a igreja do Livramento, no centro de Maceió,dou de cara com o Considerado, que estava saindo do bar do Chope. O homem era a cara da revolta. Falava pelos cotovelos e xingava tudo quanto é político alagoano.
Procurei saber a razão de tamanha aflição e ele reclamou: – A mãe do meu filho disse que vai me denunciar por que eu atrasei a pensão alimentícia.
Falei para ele que isso é coisa séria, por que pensão atrasada é um dos poucos casos da Justiça brasileira que bota gente na cadeia de verdade.
Foi aí que ele pegou ar mesmo.
– Quer dizer que eu, lascado, sem dinheiro, desempregado, vou parar na cadeia por que não posso pagar pensão?
– Provavelmente sim.
– E o que acontece com esses políticos que são acusados de receber R$ 3 milhões de propina da BR Distribuidora?
– Não vou lhe dizer nada, por que nem disso eu entendo.
– Mas eu vi agora na televisão dizendo que aquele senador alagoano teve o sigilo bancário, fiscal e mais alguma coisa quebrada por conta disso. Só que ele está lá bonitinho e o lascado aqui sou eu.
– Seu caso é diferente, Considerado.
– O meu não foi nem um caso. Foi uma vacilada que eu dei e a mulher embuchou. Só isso.
– Então pague pelo seu erro.
– Se eu ganhasse R$ 3 milhões só de propina eu ia pagar pelo erro e pelo acerto, por que nada disso dá cadeia.
– Aí eu não me meto.
– É eu sei. Você quer mesmo me ver preso por causa daquela desgraçada que o que me deu não foi propina, mas até hoje eu pago caro essa menina.
– Lamento.
– Olha mas esse negócio de ser político por aqui é mesmo uma história da China, que rima propina e seu puxar pela palavra vai dar muita rima e essa não é minha sina.