Uma das 19 vítimas do covid-19 em Alagoas trabalhava no Mercado da Produção, em Maceió. Segundo a revista Época, Claudio Mandu da Silva, de 48 anos, estava manhã da Quinta-Feira Santa (9), quando centenas de pessoas se aglomeravam nos boxes e balcões. Ele morreu seis dias depois.
E a situação ligou um alerta em Alagoas, Estado com menor taxa de isolamento social no Nordeste, com 49,3% da população cumprindo quarentena adequadamente. Inclusive naquele dia, antes da pandemia contabilizar mais casos e óbitos. Claudio Mandu fora o quinto a morrer em Alagoas e naquele dia poucas pessoas usavam máscaras, mostrando pouca preocupação com o novo coronavírus.
O Mercado da Produção, maior de Maceió com 1.478 boxes vendendo carnes, mariscos, peixes, temperos, hortifrutigranjeiros roupas e artigos medicinais. segue em funcionamento por ser considerado equipamento essencial para a segurança alimentar. Mas os comerciantes ficaram preocupados.
“Na Quinta-Feira Santa eu não fui trabalhar. Preferi não abrir a banca pois eu vendo carne e ninguém compra nesse dia. Mas eu conversava com o Cláudio, ele era açougueiro como eu. Então a gente fica apreensivo, ele trabalhou doente por vários dias, não sabemos com quantas pessoas ele teve contato”. Dono de um açougue, que falou à Época sem se identificar.
Cláudio começou a sentir indisposição no dia 2 de abril e fez automedicação com antigripais. Ele resistiu por mais alguns dias, trabalhando ao menos até aquela Quinta-Feira Santa, mas foi ao hospital já no dia seguinte.
Ele ficou internado no Hospital Veredas e, em 13 de abril, teve de ser encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Mulher. Morreu dois dias depois. A família está em quarentena.
Consequências
A Secretaria Municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária (Semtabes) lamentou a morte e informou em nota que ele não havia reportado qualquer problema de saúde à administração do estabelecimento. Seu box foi isolado e as autoridades sanitárias fizeram desinfecção em todo o mercado.
O Mercado da Produção seguiu aberto, mas com restrições, como um controle de entrada e saída de pessoas. Com a medida, formaram-se filas de clientes do lado de fora na semana passada.
Uma investigação foi aberta para apurar a responsabilidade pela aglomeração de pessoas no mercado. O Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) requisitou que seja apurada “a suposta ocorrência de crime de infração de medida sanitária”.
“Não houve qualquer organização por parte da administração do estabelecimento, mesmo após o recebimento de instruções para se evitar esse tipo de aglomeração e realizar o correto procedimento de higienização, gerando risco concreto e efetivo de contágio pela Covid-19”. Procuradoria do MPE/AL.
Em nota, a Semtabes informou afirmou que o serviço de som interno orientou os frequentadores a manterem o distanciamento adequado e que os órgãos de segurança foram acionados, “mas devido ao fluxo atípico, não foi possível dispersar a aglomeração”.