26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Fenaj: Bolsonaro atacou a imprensa 116 vezes em 2019

A cada três dias, presidente fez um ataque a jornalistas e veículos em meios oficiais

Bolsonaro encara meios de comunicação como inimigos

Quase dez ataques por mês foram desferidos pelo presidente Jair Bolsonaro a profissionais jornalistas, a veículos de comunicação e à imprensa em geral, em seu primeiro ano à frente do País.

O monitoramento vem sendo feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), que aponta um total de 116 declarações contra a imprensa em 2019. Foram 11 ataques a jornalistas, e 105 tentativas de descredibilização da imprensa.

O mês de dezembro registrou mais cinco ataques, todos classificados como tentativas de descredibilização da imprensa. Quatro deles foi pelo twitter.

No dia 13 de dezembro, por exemplo, o perfil oficial do presidente no microblog postou uma capa de jornal do dia, acompanhada do comentário: “A RENDIÇÃO DA IMPRENSA. O Brasil vai bem, apesar dela. Bom dia a todos!”.

Esse monitoramento feito pela FENAJ inclui apenas os pronunciamentos registrados por escrito nos meios oficiais do presidente, que são o twitter e as entrevistas e discursos transcritos no site do Planalto. Por isso, o número de ataques ao jornalismo é ainda maior que o já verificado até aqui.

No dia 20 de dezembro, Bolsonaro fez violentos ataques a jornalistas em entrevista na portaria do Palácio da Alvorada, de teor homofóbico e pessoal a profissionais que estavam ali simplesmente exercendo seu dever de ofício.

No mesmo dia, em nota, a FENAJ e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal ressaltaram que os ataques tentavam desviar das denúncias que ligam sua família e amigos a atividades criminosas.

Federação e sindicato também apelam às redações que reavaliem a decisão de deslocar repórteres para cobrir entrada e saída do Palácio da Alvorada, onde os jornalistas dividem espaço com apoiadores do presidente, que constantemente ameaçam os profissionais (confira a íntegra no final desta matéria).

“Nossa principal preocupação é com a democracia e as instituições democráticas, entre elas as que convencionamos chamar de imprensa. Também nos preocupa a questão objetiva da segurança dos Jornalistas. Quando um chefe de Estado ataca sistematicamente profissionais e veículos de imprensa, incentiva que seus apoiadores façam o mesmo, inclusive com intimidação, ameaças e até agressões. Bolsonaro potencializa a agressividade contra jornalistas, e com isso afronta os valores democráticos”. Maria José Braga, presidenta da FENAJ.

O levantamento produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) começou a ser divulgado com dados de janeiro a outubro de 2019, na véspera do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, lembrado em 2 de novembro.

O mapeamento se refere a dados coletados com base em todas as postagens de Bolsonaro no microblog Twitter e no Facebook este ano (as contas são sincronizadas), além das transcrições dos discursos e entrevistas oficiais, que constam no site do Palácio do Planalto.

Foram avaliadas todas as ocasiões em que o presidente se refere a jornalistas, mídia, imprensa e produção de notícias. A FENAJ continuará divulgando o balanço no ano de 2020.

Acesse aqui a linha do tempo, de janeiro a dezembro de 2019, com as declarações de ataque de Bolsonaro à imprensa.

Relatório

O monitoramento dos ataques de Bolsonaro à imprensa constará no Relatório Anual da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, que será divulgado no próximo dia 16, no Rio de Janeiro.

Em 2018, os casos de agressões a jornalistas cresceram 36,36% em relação ao ano anterior. Foram 135 ocorrências de violência registradas pela FENAJ, entre elas um assassinato, que vitimaram 227 profissionais.

A polarização do cenário eleitoral foi um dos fatores relacionados a esse aumento. Em 30 casos, os eleitores/manifestantes foram os agressores, sendo em 23 casos partidários do então candidato Jair Bolsonaro, e em sete apoiadores do ex-presidente Lula, que não chegou a ser candidato.