26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Moro sobre Coaf: Ministro da Justiça não interfere em casos concretos

Conselho de Controle de Atividades Financeiras ficará, exatamente, sob a responsabilidade do ex-juiz da Operação Lava Jato

Ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro, Sergio Moro afirmou nesta segunda-feira (10) que não é função dele interferir em casos concretos. Ainda assim, defendeu investigação sobre as movimentações financeiras atípicas do ex-motorista de Flávio Bolsonaro, senador eleito e filho do futuro presidente. Mas só se necessário.

“Eu fui nomeado ministro da Justiça, não cabe a mim dar explicações sobre isso. Eu acho que o que existia no passado de um ministro da Justiça opinando sobre casos concretos é inapropriado. Então, esses fatos têm de ser esclarecidos. O presidente já apresentou alguns esclarecimentos. Tem outras pessoas que precisam prestar seus esclarecimentos e os fatos, se não forem esclarecidos, têm de ser apurados. Mas eu não tenho como ficar assumindo esse papel. O ministro da Justiça não é uma pessoa para ficar interferindo em casos concretos”

Essa foi a primeira vez que Moro comentou sobre o relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) envolvendo a família Bolsonaro. Antes, no final de semana, ele preferiu ficar calado quando questionado por repórteres.

Criado há 20 anos e vinculado atualmente ao Ministério da Fazenda, o Coaf ficará sob a responsabilidade do ex-juiz da Operação Lava Jato no Paraná. Moro indicou o auditor e chefe da área de investigação da Receita Federal em Curitiba, Roberto Leonel, para comandar o órgão a partir de 1.º de janeiro.

A equipe do futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, pretende reforçar a estrutura do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), principal órgão fiscalizador dessa área no Brasil, e tornar mais ágil o repasse de dados às instituições de investigação.

Amigo do Bolsonaro

O ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) (que se fosse de esquerda seria tratado como Bolsonarinho ou Flavinho) fez 176 saques de dinheiro em espécie de sua conta em 2016. Uma retirada a cada dois dias naquele ano.

O Coaf achou estranha essa movimentação financeira, considera atípica, de R$ 1,2 milhão do policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz. Esse valor inclui tanto saques como transferências, créditos em suas contas, entre outras operações.

No dia 10 de agosto de 2016, por exemplo, Queiroz fez cinco retiradas que, somadas, dão R$ 18.450. Todos os saques foram em valores abaixo de R$ 10 mil, a partir do qual o Coaf alerta automaticamente as autoridades fiscais.

E além dos vários saques de valores baixos, chamou a atenção um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michele Bolsonaro, ou “Dona Michele”. A filha do ex-motorista também era servidora da família, alocada no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.

Bolsonaro

Flávio Bolsonaro afirmou à imprensa na tarde que o ex-motorista “relatou uma história bastante plausível”, e que não haveria nenhuma ilegalidade nas transações. Afirmou ainda que o funcionário está à disposição para prestar esclarecimentos ao Ministério Público.

E isso foi uma grande contradição do que fora dito por seu pai. Jair Bolsonaro afirmou que o motorista recebera um empréstimo de R$ 40 mil e como não tinha tempo para ir no banco, pediu que o pagamento fosse feito na conta de sua esposa.

“Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai achar os R$ 40 mil”

Bastante ativo no Twitter, comentando sobre assuntos polêmicos como quem joga gasolina na fogueira, curiosamente, ele teve que repousar. Sua agenda de sexta-feira fora cancelada e nada comentou sobre a movimentação do assessor e de Dona Michele.