25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Nada de ignorar: “Dar palco pra maluco” é a chance para o idiota perder grana e voto

Influenciadores mais tóxicos já possuem público cativo e mesmo cargos de alto escalão, então “fingir que não existe” apenas deixa o problema crescer

Como resposta para comentários absurdos ou tóxicos, no início da internet falava-se em “não alimentar os trolls”. Era um período de postagens anônimas e a melhor estratégia contra o ruído era mesmo o ostracismo: se a gente ignorar, vai embora.

Hoje, com perfis virtuais cada vez mais intrinsicamente ligados ao indivíduo, o discurso não é mais de uma voz sem rosto. E com a popularização das redes sociais, a proporção de ignorantes, preconceituosos, criminosos e burros ficou maior no mundo virtual.

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Sendo assim, basta alguém falar mais alto para ser ouvido e seguido. E se alguém pode ser um influenciador de maneira benéfica (propagando cultura, ciência e entretenimento saudável), nada impede que a fama seja alcançada com a propagação de lixo, impropérios, racismo, pura burrice e até mesmo crimes.

Por pura curiosidade ou identificação de perfil (não sei se você percebeu, mas ultimamente tem muito fascista saindo do armário), estes influenciadores questionáveis ficaram cada vez mais populares.

Eles são acompanhados por milhares, milhões de pessoas em suas redes sociais, podcasts ou programas de rádio e televisão. Conseguindo com isso muito dinheiro e, pior, votos, influenciando diretamente nos rumos do país.

Fica claro, portanto, que “não alimentar o troll” é uma etiqueta antiquada. A ideia do indivíduo se achar importante o suficiente para criar um movimento de “não dar palco pra maluco”, acreditando que ao não compartilhar vai fazer sumir algo danoso, é ingênuo.

O palco já existe. A burrice não é mais uma vergonhosa. O discurso hediondo foi abraçado. A defesa torpe da “liberdade de expressão” para defender homofobia, racismo, antissemitismo ou qualquer outra forma de ódio e ataque contra minorias, passou a ser defendido. E não só por uma voz: mas por milhares de ouvidos.

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Reconhecer e atacar o problema

Fingir que o maluco não existe é perder terreno. Como fingir grandes audiências ou mesmo todo um governo? A melhor estratégia é exatamente a que eles não tem: conhecimento. E saber como agir. Ou reagir.

Seja incentivando que estes percam seus recursos (cobrando dos patrocinadores, a exemplo do que o Sleeping Giants faz) ou não dando voto.

O youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, defendeu nessa semana a “criação de um partido nazista no Brasil”. O que acabou sendo a gota d’água para o fim de sua carreita de podcast no Flow.

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O cidadão bem intencionado poderia até criticar o holofote para alguém que “fala para aparecer”, mas este ser burro, desperdício de oxigênio, já era titular do podcast mais ouvido do Brasil. Ignorar a influência e poder dele seria compartilhar da mesma burrice.

O crime de Monark, pelo menos, foi o suficiente para arrebentar com a carreira dele: demitido do Flow, ele agora é também alvo da procuradoria-geral da República por apologia ao nazismo.

Na mesma esteira, aliás, está o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), fundador do MBL e que há anos também divulga burrice e influencia de forma danosa muita gente.

Kim sobreviveu tempo suficiente para levar massa de manobra para rua, se eleger com discurso bolsonarista e agora fazer o mesmo nas eleições deste ano com um discurso morista.

Monark pode não ter essa sobrevida. Antes de falar sobre nazismo, ele já tinha comparado a homofobia com beber refrigerante e chegou a questionar se opinião racista é crime. Infelizmente, foi preciso chegar nesse ponto para cair, mas já é alguma coisa.

É importante ficar a dica: a maioria das pessoas não concordam com homofobia, racismo e nazismo. Muito pelo contrário. E a noção do discurso burro de Monark foi o suficiente para ele perder seus patrocinadores. Agora é lutar para que não vá atrás de voto:

Idiotas

Quando falo de idiota, falo de influenciadores, de jornalistas, de economistas, de políticos e de presidentes. Tentar ignorar o que eles falam, defendendo que não se compartilhe o mesmo, é inútil: o discurso já está lá, mesmo que na bolha.

Geroge Carlin já tinha resumido isso bem: pense no quão burra uma pessoa normal pode ser é e perceba que a maioria da população é mais burra ainda que isso. E o que não falta são pessoas prontas para se deleitar, compartilhar e replicar este discurso. Seja com audiência ou voto.

Se um destes influenciadores, não importa a posição dele, faz ou comete algum burro (principalmente se a ação for criminosa), é preciso que uma enorme lupa seja colocada. E que sirva para ressaltar tudo o que há de errado no indivíduo.

comemoração da morte de um destes idiotas mostra que, sim, é possível resumir tudo de errado num indivíduo só. Portanto, quanto mais erros (e crimes) forem listados, pior para este indivíduo, melhor para a sociedade.

Preferir “não falar disso para não dar palco para idiota” é perda de tempo: este idiota já tem palco. E há vários deles concordando com prazer com tudo sendo dito e feito. Alguns, até mesmo, carimbando com um “eu autorizo”.

Não é preciso nem muito floreio para tentar não falar do fascismo no bolsonarismo. A ideia de armar a população, de atacar minorias, defender a morte de opositores e apelar do discurso racista, homofóbico e elitista, é evidente.

O bolsonarismo, variante do olavismo, capitaneada pelo presidente Jair (que abraça nazistas e beira ao genocídio na pandemia), está no governo do Brasil há quatro anos. Evidente, neste período as coisas pioraram e muito. E defender que as merdas e imbecilidades que seu governo e apoiadores falam não sejam “divulgadas” é besteira.

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Nem tudo é gaslighing, nem tudo é estratégia. Às vezes é burrice e cruealdade pura mesmo. Coisas que infligem o código penal. Então que se dê palco para esses malucos e que eles sofram punições que a voz da maioria de bem consegue fazer: tolhendo dinheiro de patrocinadores e respondendo nas urnas, fazendo perder no voto.

Esta, meu amigo, é a única solução para o maluco que fala e faz merda demais: fazer ele morrer pelas próprias ação e pela boca.

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Fonte: Agência Senado