26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Se o agro é pop, a fome é top

Desabafo de um pequeno produtor rural do interior de Minas Gerais: “O retrato do agro pop é isso aí gente, não é sustentável ambientalmente, não é sustentável socialmente e não é sustentável nem economicamente”.

Ruim para o pequeno e médio produtor rural e para o consumidor, que paga cada vez mais caro por itens alimentícios, o problema está no mercado, que só é rentável para quem concentra terra, dinheiro e poder político. É uma das faces mais cruéis do bolsonarismo, que ataca o bolso e a barriga dos brasileiros.

“Como continuar na terra e não ser obrigado a entregar mais um pedacinho nas mãos de um daqueles 1% de latifundiários que concentram 45% das terras do país?”, questiona Paulo Aranã, que faz queijo no município mineiro de Itambacuri.

Diante da alta do dólar, fornecedores de ração para os animais da fazenda, por exemplo, diminuíram o peso da saca para não assustar o produtor rural. A embalagem de 50kg agora “pesa” 30kg.

“É a mesma técnica que fizeram com as barras de chocolate, pra ninguém assustar com o aumento do preço eles diminuem a quantidade. O negócio é que quando cê tem 80 vacas pra dar comida todo dia você assusta bastante quando o saco de ração de 50 kg diminui pela metade”, afirma o empresário.

A alimentação dos animais chega, segundo ele, a representar metade dos custos da produção. Para se ter uma ideia, Paulo relata que, em fevereiro do ano passado, pagou R$ 59,8 no saco de ração de vaca, que saltou para R$ 69,6 em setembro e, em novembro, já custava R$ 77,45.

Além disso, o dólar alto impactou pesadamente nos valores de combustível, medicamento veterinário, eletricidade, peças e manutenções de trator, ordenha e resfriador ou qualquer outro equipamento necessário nessa área.

Mas, adivinhem para quem o dólar alto e extremamente benéfico?

“Enquanto o latifundiário que trabalha com exportação de soja e milho pra china tá enchendo os bolsos com o dólar a R$ 5,00, o pequeno e o médio produtor que produzem o que vai pro seu supermercado tão fazendo conta pra ver se vão conseguir pagar a ração e os salários”, queixa-se.

Ou seja,o governo dos ricos, para os ricos e pelos ricos, segue sua política de concentração de renda e o povo satisfeito.

Desde que se preserve a moral e os bons costumes, apertar o cinto ou passar fome não é nada demais. Um salve ao conservadorismo e ao analfabetismo político.